Usuários
de drogas dos mais diversos tipos podem estar financiando
alguns dos crimes mais bárbaros ocorridos nas periferias.
A ligação entre o baseado que o adolescente
de classe alta fuma na faculdade ou o papelote de cocaína
que circula nas boates chiques e os índices de criminalidade
nos bairros pode parecer tênue. Mas que estuda o assunto,
garante que não é. Ao comprar a droga, o usuário,
seja viciado ou não, está fomentando um negócio
ilegal, movido a crueldade e que consome dezenas de vidas
a cada mês na capital.
Esse ponto-de-vista é compartilhado por vários
especialistas no assunto, independentemente da posição
que tenham sobre a descriminalização do consumo
de drogas. "As pessoas têm o direito de fazer o
que quiserem com o seu corpo. Mas dentro da realidade que
vivemos, comprar drogas é um ato não-cidadão,
já que acaba financiando o tráfico", afirma
o sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Grupo
de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná.
Para o delegado Alfredo Dib Júnior, da Divisão
de Narcóticos, o usuário deve ser forçado
a perceber a conseqüência dos seus atos. Não
só as conseqüências ligadas à violência
que o tráfico gera. "Utilizar drogas é
crime, que prevê reclusão de seis meses a três
anos, e isso deve continuar assim. Uma forma de combatê-lo
é mostrar para quem usa que precisa ter consciência
dos seus atos, que ele pode estar prejudicando diretamente
sua família, que seu filho pode nascer deformado se
ele abusar", afirma o policial.
Bodê explica que há duas formas básicas
adotadas mundialmente para combater o tráfico. A primeira
é a repressão aos traficantes. A técnica
é a mais utilizada nos Estados Unidos, cujo modelo
é copiado pelo Brasil. A outra é tentar diminuir
a procura pela droga, com programas que eduquem a população
sobre o risco do uso de entorpecentes. Esse modelo é
utilizado principalmente nos países europeus.
"Ou você trata o problema com algo 'policialesco'
ou como uma questão de saúde pública.
No Brasil os investimentos em educação são
muito baixos, incipientes", ressalta o sociólogo.
Essa opção, segundo ele, não é
culpa apenas dos governantes. "O Estado só está
refletindo o que a sociedade em geral pensa sobre o assunto."
Bodê é pessimista sobre a possibilidade de uma
mudança na maneira como o país luta contra as
drogas. Segundo ele, não há chance de ocorrer
uma mudança drástica sem que a população
mude seus conceitos sobre segurança pública.
Pelo lado prático, Dib Júnior lembra que é
importante que seja feita uma diferenciação
entre os tipos de usuário, para que seja estipulado
um "grau de culpabilidade" para cada um deles. Ele
diz que eles estão divididos em quatro grupos. Primeiro
estão os experimentadores e os usuários ocasionais
ou recreativos, depois os freqüentes e finalmente os
viciados.
Na visão do delegado, são os usuários
freqüentes que dão realmente lucro para os traficantes
e é neles que está a possível solução
para o problema. "Ao contrário do que se imagina,
o viciado ocupa uma pequena fatia do mercado. Ele é
o cara que não interessa para o traficante, que traz
problema, chama a atenção da polícia
e acaba estragando todo o negócio. Além disso,
antes de ser um criminoso ele é um doente", diz.
ANDRÉ GONÇALVES
da Gazeta do Povo, de Curitiba - PR |