O centro de estudos Economist
Intelligence Unit (EIU) acredita que, em 2004, o governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai enfrentar
obstáculos políticos e dar mais ênfase
às reformas sociais, a fim de manter sua base de apoio.
No entanto, o centro, que pertence ao mesmo grupo da revista
The Economist, diz que o compromisso do presidente com a atual
política econômica ortodoxa vai continuar.
Os comentários fazem parte das previsões da
EIU para 2004, segundo as quais o "período de
lua-de-mel do novo governo" está terminando, com
"sinais crescentes de descontentamento, especialmente
por parte dos defensores tradicionais do partido ede um grupo
de parlamentares da esquerda do PT".
E é justamente para atender a esse público
que o governo vai buscar soluções para problemas
relacionados a pobreza e marginalização, "por
meio de programas de redistribuição de renda,
reforma agrária e de bem-estar social", diz o
centro.
'Ortodoxia
Para a EIU, quando começar a campanha das
eleições municipais, marcadas para outubro,
a oposição vai tentar "destacar as falhas
do governo, incluindo o começo medíocre do programa
Fome Zero e controvérsias sobre subsídios a
projetos culturais".
Mas o centro de estudos observa que o governo tem restrições
na área fiscal para avançar nos projetos sociais.
Por isso, "progresso nessas áreas vai depender
da habilidade do governo em negociar concessões de
grupos privilegiados, melhorar a eficiência do gasto
público e canalizar os recursos disponíveis
para os mais pobres".
O crescimento (da economia) pode ser maior do que estamos
prevendo devido à extensão da capacidade ociosa
em setores menos orientados para exportação.
A EIU observa que o governo vem mantendo "a estrutura
macroeconômica ortodoxa herdada da administração
anterior, que engloba disciplina fiscal, regime de câmbio
flutuante e metas de inflação".
Nas suas previsões para 2004, o centro de estudos
diz que a política econômica deve continuar a
ser determinada pelas metas do programa com o Fundo Monetário
Internacional (FMI).
Nisso estaria incluído o superávit primário
(resultado das contas públicas que exclui receitas
e despesas financeiras) de 4,25% do Produto Interno Bruto
(PIB).A EIU, contudo, acredita que há algum espaço
para relaxar essa política em 2004 para estimular a
economia, embora o governo "vá permanecer cauteloso".
Crescimento
No estudo, que analisa as perspectivas econômicas
de 190 países, a EIU prevê que o Brasil cresça
2,2% em 2004, depois de uma expansão de apenas 0,6%
neste ano.
A EIU prevê que novos cortes de juros e a volta da
confiança no país devem estimular a recuperação
do consumo e dos investimentos. Esses fatores, junto com continuado
aumento, "embora modesto" das exportações,
devem impulsionar a economia.
"O crescimento (da economia) pode ser maior do que estamos
prevendo devido à extensão da capacidade ociosa
em setores menos orientados para exportação",
prevê.
No entanto, a expansão deve permanecer abaixo do potencial,
segundo a EIU, devido à rigidez estrutural e dificuldades
de acesso a crédito do setor privado.
MARIA LUIZA ABBOT
da BBC Brasil
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