Levantamento feito pelo IBGE e obtido
pela Folha mostra que, além de o desemprego ter estacionado
em patamar elevado (12,9% em outubro), o aumento da população
ocupada se baseia em empregos precários.
A subremuneração e a subocupação
estão em alta, segundo tabulações especiais
feitas com os dados da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) de
outubro.
De outubro do ano passado a outubro deste ano, 602.067 novas
pessoas entraram no mercado de trabalho ganhando menos de
um salário mínimo mensal, mesmo trabalhando
as 40 horas semanais regulamentares.
São os subremunerados. A participação
relativa deles no universo de pessoas ocupadas passou de 9%
em outubro de 2002 para 12% em outubro deste ano, um aumento
de 33,33%.
No total, eram 2,228 milhões de subremunerados em
outubro nas seis regiões metropolitanas que fazem parte
da pesquisa do IBGE (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio,
São Paulo e Porto Alegre), em um universo de 18,633
milhões de pessoas trabalhando.
Embora em menor proporção, cresceu também
o número de subocupados, definidos pelo IBGE como aqueles
que, embora disponíveis para trabalhar as 40 horas
regulamentares, não conseguiram empregos que preenchessem
essa disponibilidade.
Eles passaram de 3,8% da população ocupada
em outubro de 2002 para 4,9% em outubro deste ano. Em números
absolutos, mais 223.840 pessoas subempregadas estavam no mercado.
O número total passou de 688.019 para 911.859 pessoas.
Resposta ao enigma
Na avaliação do economista Lauro Ramos,
editor do Boletim de Mercado de Trabalho do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada), esses números
podem ser a resposta a um enigma que vem atordoando os especialistas:
se o PIB (Produto Interno Bruto) do país caminha para
uma taxa de crescimento próxima a zero neste ano, como
pode a população ocupada ter crescido 3,1% em
outubro, alta de 556 mil pessoas?
Embora não seja um dado científico, é
aceito que, em condições normais, é necessário
que o PIB (a soma das riquezas produzidas) cresça um
ponto percentual para que a força de trabalho cresça
de 0,5% a 0,7%. Se o PIB não está crescendo,
como é possível a ocupação crescer?
"Na verdade, essa aparente geração de
empregos ocorre quase que exclusivamente à conta de
subocupação, especialmente por insuficiência
de renda [subremuneração]", disse Ramos.
O economista do IBGE Cimar Azeredo, gerente da PME, tem ponto
de vista semelhante. "Este é um ano de maior precariedade
do mercado de trabalho", disse.
Tanto Azeredo como Ramos concordam que a subremuneração
é um fenômeno que é derivado do desemprego.
Como o dinheiro é insuficiente, outros membros da
família vão ao mercado e começam a trabalhar
ganhando também abaixo do mínimo.
Com isso, há um aumento do número de pessoas
ocupadas, mas as novas ocupações são
de baixa qualidade.
Insatisfação
Outro levantamento feito pelo IBGE mostra que também
cresce a proporção de pessoas que, embora empregadas,
continuam procurando emprego.
O patamar desse grupo estava na casa dos 4% no ano passado
e saltou para 5% este ano. Eles eram 4,5% do total de ocupados
em outubro de 2002 e passaram para 5,6% em outubro deste ano.
Em números absolutos, passaram de 819 mil para 1,046
milhão. Azeredo disse que a parcela não é
grande, embora o IBGE não disponha de dados internacionais
para fazer uma comparação.
CHICO SANTOS
da Folha de S.Paulo, sucursal do Rio de Janeiro
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