Embora esteja empenhado em encontrar
novas formas de financiamento das universidades públicas,
o ministro da Educação, Cristovam Buarque, vem
insistindo que a crise não se resume à falta
de verbas. A crise é mais profunda, afirma. Nem as
universidades estariam se dando conta disso, adverte o petista.
"Elas tratam da crise como se consertam goteiras no
telhado, sem perceber que o céu está desabando",
escreveu em trabalho apresentado na Conferência Mundial
sobre Ensino Superior, realizada há cinco meses em
Paris. Intitulado "A universidade numa encruzilhada",
o documento é, como o nome diz, um retrato da crise
por que passam essas instituições de ensino
superior.
A universidade brasileira, de acordo com a avaliação
do ministro, nasceu com um vício de origem, para atender
às conveniências de um rei europeu. Ela foi criada
em 1922 no Rio para dar um título de doutor honoris
causa ao rei Leopoldo da Bélgica, que visitava o Brasil
na ocasião. "É um pecado original do qual
ainda não nos livramos", escreveu.
O crescimento da universidade brasileira ocorreu durante
o regime militar (1964-1985), e a volta da democracia, em
1985, coincidiu com o aperto financeiro das instituições,
"chegando ao ponto do abandono da universidade pública
pelo poder público", e o aumento da oferta das
universidades particulares. "A universidade privatizou-se
de duas formas: a predominância das instituições
privadas e a perda de um projeto social nacional por parte
das universidades públicas", diz o texto elaborado
pelo ministro.
Cristovam defende medidas para enfrentar a crise de "falta
de sintonia" do ensino superior e promover o que ele
chama de "refundação" da universidade
brasileira. Entre as medidas estão: o estímulo
ao ensino à distância, sistemas de seleção
dentro das escolas de segundo grau (como já acontece
em Brasília), a instituição de um diploma
provisório (que garanta a reciclagem permanente dos
alunos), a ênfase na formação de professores
do ensino básico e até a redefinição
de carreiras.
MARTA SALOMON,
da Folha de S.Paulo.
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