Enquanto que em países
como Estados Unidos, Grã-Bretanha e Dinamarca o consumo
de genéricos corresponde a cerca de 40% do total de
medicamentos disponíveis no mercado, no Brasil o índice
é de cerca de 7%.
A realidade se repete na maior parte da América Latina,
segundo um relatório da consultoria britânica
World Markets Research Centre, com sede em Londres.
Segundo Tanja Sturm, a autora do relatório, a região
deveria estar consumindo um número maior de genéricos,
o que reduziria entre 10% e 60% as despesas públicas
e privadas com o setor de saúde.
"No caso específico do Brasil, a produção
e o consumo de genéricos poderia ser muito maior e
mais estimulado pelo governo, já que o país
provou que dispõe de ótima tecnologia tanto
para a produção quanto para a fiscalização
desses medicamentos, depois que passou a produzir genéricos
contra a Aids", diz Sturm.
Médicos
Apesar de ser um grande consumidor de genéricos
contra a Aids, o Brasil não repete esse desempenho
com os medicamentos usados em maior escala pela população.
"No Brasil e no resto da América Latina, não
há a cultura de se consumir nem de se receitar genéricos.
Acho que há dois culpados: o governo, que não
estimula o uso nem pelos médicos nem pelo público,
e o lobby pesado da indústria farmacêutica nesses
países", afirma Michael Bailey, um dos coordenadores
da organização humanitária Oxfam, com
sede em Londres.
Segundo ele, além de o público não ser
treinado para confiar nos genéricos, os médicos
muitas vezes não são ensinados nas universidades
sobre o nome genérico dos medicamentos, mas somente
sobre o seu nome comercial.
"A proximidade dos médicos com os grandes laboratórios
também não ajuda que eles receitem genéricos",
avalia Bailey.
O coordenador da Oxfam lembra que outros países em
desenvolvimento como a Índia e o Egito têm uma
enorme tradição no consumo e na produção
de genéricos.
"Hoje em dia esses países já provaram
que podem produzir produtos de qualidade, e o Brasil pode
também", avisa Michael Bailey.
Tanja Sturm lembra que, no relatório sobre a América
Latina, somente Argentina e Chile apareceram como bons consumidores
de genéricos.
"O Chile tem uma longa campanha por parte do governo
que estimula esse consumo. A Argentina sofria uma grande influência
por parte dos grandes laboratórios, mas com a crise
econômica precisou mudar a sua legislação,
tornando obrigatória a prescrição de
genéricos", explica Sturm.
"Acredito que o governo Lula está mais comprometido
com o aumento do consumo de genéricos. Já notamos
alguns sinais de crescimento no consumo, que esperamos que
se repita nos próximos anos", diz a consultora.
MARIANA TIMÓTEO DA COSTA
da BBC Brasil
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