Por causa
da ação de presos que se intitulam líderes
da cadeia, a Secretaria Estadual de Administração
Penitenciária do Rio teve de suspender, há seis
meses, um programa de capacitação profissional
feito pela ONG Fundação Santa Cabrini no presídio
Bangu 2 (zona oeste), considerado de segurança máxima.
Os presos que participavam do curso costuravam bolas de futebol
e consertavam carrinhos de sorvete. A atividade foi interrompida
porque eles eram obrigados pelos líderes a furtar o
material usado no trabalho -como fibras e cordas-, que serviria
para fabricar estoques (armas artesanais). Quem não
obedecesse passava a ser perseguido na cadeia.
Em vez de controlar a ação dos líderes,
a secretaria optou por suspender o projeto da Santa Cabrini.
O subsecretário Aldney Peixoto afirmou à Folha
que controlar os presos "é muito difícil".
O fato chocou o deputado federal Chico Alencar (PT-RJ), integrante
de uma comissão de parlamentares que esteve ontem no
complexo penitenciário de Bangu vistoriando os presídios.
"A ação de uma elite carcerária
acabou por suspender o princípio da gestão do
sistema, que é castigar e, ao mesmo tempo, dar oportunidade
de recuperação."
O presídio Bangu 2 tem capacidade para 750 detentos
e abriga atualmente 650 presos, todos vinculados à
facção criminosa Terceiro Comando.
O coronel Cid Souza Sá, assessor especial da Secretaria
de Administração Penitenciária, afirmou
que as autoridades têm o total controle da cadeia.
Roupas
No presídio Bangu 3, os deputados souberam
que parentes de presos não podem entrar na unidade
usando camisas, calcinhas ou sutiãs vermelhos ou pretos.
A alegação é que o vermelho é
sinal de apologia à facção criminosa
CV (Comando Vermelho) e o preto faz alusão à
guerra.
Algumas mulheres disseram que são obrigadas a alugar
roupas de outras cores para poder entrar na penitenciária.
"A pena dos presos não pode ser repassada para
seus parentes", disse a deputada Laura Carneiro (PFL-RJ).
MARIO HUGO MONKEN
da Folha de S.Paulo
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