A saúde bucal do brasileiro é reveladora da desigualdade social
do país. De acordo com a parte brasileira da Pesquisa
Mundial de Saúde, divulgada ontem pela Fiocruz (Fundação
Oswaldo Cruz) e realizada no ano passado para a OMS (Organização
Mundial da Saúde), 14,4% dos brasileiros já
perderam todos os dentes.
Levando em conta que o IBGE estima em 179 milhões
a população atual no Brasil, isso significa
que cerca de 26 milhões já não têm
mais nenhum dente natural.
A comparação entre classes sociais mostra que,
entre os mais pobres, esse percentual chega a 17,5%, e, entre
os mais ricos, é de 5,9%. A Fiocruz fez a separação
entre classes pelo número de bens de consumo (televisão,
geladeira, entre outros). A pior situação foi
encontrada entre as mulheres com mais de 50 anos em famílias
mais pobres: 55,9%.
"A preocupação do sistema público
com a saúde bucal é muito recente e ainda não
há uma conscientização sobre a necessidade
da prevenção, principalmente entre as classes
mais baixas", afirmou Célia Szwarcwald, uma das
coordenadoras da pesquisa.
Em março, a União anunciou R$ 1,2 bilhão
para o programa Brasil Sorridente, de saúde bucal.
A pesquisa comparou alguns fatores de risco à saúde.
Os dados mostram que 10,1% da população pode
ser considerada obesa, segundo os padrões da OMS, e
que 28,5% dos brasileiros apresentam sobrepeso. A porcentagem
de pessoas abaixo do peso é de 5%.
O índice dos que dizem ter bebido pelo menos cinco
doses de bebidas alcóolicas na semana anterior à
pesquisa é de 14,8%, percentual que é maior
na faixa etária mais jovem (18 a 34 anos), onde chega
a 17,4%. Os fumantes diários representam 18,1%, sendo
que o hábito é menor entre os que têm
entre 18 e 34 anos -15,2%.
A pesquisa mostrou ainda que 24% da população
é sedentária.
A maioria (54%) dos brasileiros avalia seu estado de saúde
como bom ou muito bom. A porcentagem de brasileiros que consideram
sua saúde moderada é de 38%, enquanto 9% dizem
ser ruim ou muito ruim. O percentual de avaliação
positiva é maior entre os homens (60,2% de bom ou muito
bom) do que entre as mulheres (47,5%).
Os dados da pesquisa indicam também aparente contradição
entre a avaliação que o brasileiro faz do sistema
de saúde em geral e a qualidade do atendimento.
Para 58% dos entrevistados, o funcionamento da assistência
de saúde no país é, em geral, insatisfatório
ou muito insatisfatório. A imensa maioria (97,3%),
porém, disse que conseguiu assistência médica
quando precisou dela.
A partir da resposta a 13 perguntas sobre a assistência
ambulatorial, a Fiocruz elaborou um índice de satisfação,
calculado a partir da porcentagem de respostas "boa"
ou "muito boa". O resultado foi que o índice
de avaliação desse serviço foi de 77
sobre 100, sendo 70 para os usuários do SUS, 88 para
os que pagaram diretamente a consulta e 89 para os que usaram
o plano de saúde.
"O brasileiro pode ter uma avaliação positiva
do atendimento que recebeu em alguns casos, mas, quando analisa
a situação geral, pode se sentir injustiçado
por ter que pagar por serviços privados ou porque só
uma parcela da população tem acesso ao atendimento
pago", diz Szwarcwald.
ANTÔNIO GOIS
da Folha de S. Paulo
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