A indústria brasileira já
dá sinais de que a recessão ficou para trás.
Em setembro, o nível de emprego no setor cresceu pelo
segundo mês consecutivo, com alta de 0,8% em relação
a agosto. O número de horas pagas aos trabalhadores
também aumentou 1,9%, nesta mesma base de comparação,
interrompendo uma sequência de quatro meses de retração,
revelou pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
Mas a recuperação ainda não chegou ao
bolso dos empregados. O rendimento médio real (descontado
a inflação) caiu 0,6%, em relação
a agosto. Em comparação a setembro de 2002,
a perda de poder aquisitivo é ainda maior: 4,8%. Foi
o 21º mês consecutivo de queda.
"Há uma defasagem temporal entre a retomada da
atividade econômica e o emprego. Mas o aumento das horas
pagas é um primeiro sinal positivo. O próximo
passo será o aumento das contratações
e, por último, dos salários", explica o
economista da coordenação de indústria
do IBGE, André Macedo.
O diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial, Julio Sérgio Gomes de Almeida, atribui
a recuperação tímida do setor aos juros.
"Isso é reflexo da política de ajuste
monetária implementada pelo governo federal. Foi exagerada.
Demoraram muito para baixar os juros. Agora estamos pagando
a conta".
Macedo, do IBGE, lembra que, apesar de positivo o resultado
de setembro não foi suficiente para reverter as perdas
acumuladas desde 2002. Na comparação com o mesmo
mês do ano passado, o número de trabalhadores
da indústria encolheu 1%.
Os setores que contribuíram para o resultado negativo
foram os mais dependentes do mercado interno, como vestuário
(-7,0%), minerais não metálicos (-7,6%), têxtil
(-5,9%) e calçados e couro (-5,2%). Regionalmente,
a maior queda ocorreu no Rio de Janeiro, que cortou 5,2% das
vagas. Segundo o IBGE, a retração do emprego
na indústria fluminense foi influenciada por vestuário
(-15,1%) e produtos de metal (- 17,5%). Em São Paulo,
a perda foi de 0,4%.
A indústria do Rio também registrou a maior
retração da renda (16,2%). É a maior
queda já registrada pelo IBGE, desde o início
da série histórica, em janeiro de 2002. Esse
número, entretanto, reflete um efeito estatístico
da base de comparação, já que em setembro
de 2002 a folha salarial da Petrobras foi inflada pelo pagamento
de participação nos lucros. Como neste ano o
pagamento não ocorreu no mesmo mês, os salários
da indústria extrativa mineral caíram 31,9%.
"Em setembro do ano passado, uma grande empresa do setor
de extração pagou bônus salarial aos funcionários.
Isso pesou muito no resultado, já que 57% da atividade
industrial se concentra neste ramo", lembra Macedo.
Janaina Vilella,
do Jornal do Brasil.
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