A meta do governo federal de assentar
355 mil famílias até 2006, o que deve ser a
base do novo PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária),
foi rotulada de "ridícula" pelo MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), de "mesquinha"
pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) e de "insuficiente"
pela Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores
na Agricultura).
"Se for mantida, essa meta será ridícula.
O governo não contará com o nosso apoio. [O
governo] deveria pelo menos honrar os princípios históricos
do PT. Infelizmente, a luta do movimento vai continuar durante
todo o mandato de Lula", disse ontem João Paulo
Rodrigues, da coordenação nacional do MST.
Ontem, a assessoria de imprensa do ministro Miguel Rossetto
(Desenvolvimento Agrário) informou que ninguém
da pasta responderia às críticas dos movimentos
e da CPT.
A expectativa das entidades era que a meta de 1 milhão
de famílias sugerida num anteprojeto do PNRA, coordenado
a pedido do governo pelo economista e ex-deputado federal
petista Plínio de Arruda Sampaio, fosse mantida e anunciada
oficialmente. Ontem pela manhã, com palavras de ordem,
uma marcha com cerca de 2.000 sem-terra --segundo avaliação
da polícia e dos próprios coordenadores- chegou
a Brasília exigindo esse número.
Rossetto disse anteontem à noite a deputados federais
petistas que a base do novo PNRA será, além
do assentamento das 355 mil famílias, atender a 150
mil por meio de créditos fundiários e a outras
500 mil em programas de regularização fundiária,
ou seja, o governo entregará títulos de terra
a famílias de posseiros.
Para dom Tomás Balduíno, presidente nacional
da CPT, o atual governo "está indicando que fará
uma reforminha agrária" igual à do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso --que assentou 328,8 mil famílias
entre 1995 e 2001, segundo pesquisa de seu próprio
governo. Em 2002, último ano de seu mandato, não
foi divulgado balanço.
"Não chega a ser frustrante porque não
poderia se esperar outra coisa do ministro [Rossetto]. Estou
vendo uma coisa calculista e mesquinha", afirmou dom
Tomás Balduíno.
Um pouco menos indignado, Manoel José dos Santos,
presidente da Contag, declarou que a meta de 355 mil famílias
até 2006 é "insuficiente" e "distante
das propostas". A Contag pede, no mínimo, o assentamento
de 200 mil famílias por ano.
Negociação
"É claro que essa não é
a nossa proposta. Queremos avançar bastante e continuar
lutando. Mas acredito que ainda exista espaço para
negociar com o governo", disse o presidente da Contag.
Amanhã, cerca de 5.000 sem-terra ligados ao Fórum
pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, formado
por MST, Contag e CPT, entre outros, pretendem fazer uma marcha
na Esplanada dos Ministérios.
"[Com o anúncio da meta de 355 mil famílias]
a marcha pode ganhar um novo ingrediente", disse João
Paulo Rodrigues, do MST. Em 1997, durante marcha a Brasília,
o MST reuniu cerca de 35 mil trabalhadores rurais.
Hoje, haverá uma conferência sobre o PNRA organizada
pelos sem-terra, a qual foram convidados o ministro Rossetto
e o presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária), Rolf Hackbart. Nenhum deles, porém,
confirmou presença no evento.
A expectativa dos sem-terra é conseguir agendar para
amanhã um encontro com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
Eduardo Scolese e Talita Figueiredo,
da Folha de S.Paulo, em Brasília.
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