Sem conseguir
bancar a demanda da educação profissional do
país, o governo federal desenvolveu um programa para
estimular empresas e o terceiro setor a investir no ensino
técnico. Para o Ministério da Educação,
hoje, seria necessário praticamente quadruplicar o
número de vagas no ensino profissional para atender
a quantidade mínima de pessoas treinadas que o mercado
de trabalho exige -o número chegaria a 2 milhões
de estudantes.
O projeto Escola de Fábrica, que será lançado
na próxima semana, terá recursos de R$ 18 milhões
e deve atender até 10 mil estudantes da rede pública.
As salas de aula serão montadas por empresas, a execução,
realizada por entidades do terceiro setor e a programação
curricular e certificação caberá às
Cefets (Centros Federais de Educação Tecnológica).
O MEC espera participação de 500 empresas.
"A necessidade de expansão na educação
profissional é tamanha que o Estado sozinho não
dá conta", afirmou Antonio Ibañez, secretário
de Educação Profissional e Tecnológica
do MEC. "Hoje, nós temos muita dificuldade, com
a retomada do crescimento econômico, de encontrar gente
com capacidade técnica."
O projeto prevê que as escolas sejam autofinanciáveis,
ou seja, a empresa e a organização não-governamental
envolvidas devem fazer um fundo para que nos próximos
anos não dependam de repasse governamental. O ministério
somente repassará recursos para novas escolas.
A educação profissional no ensino básico
cresceu 14,5% entre 2002 e 2003 (675 mil matrículas),
em comparação ao ensino médio, que aumentou
1% (9,2 milhões). "Isso mostra que o jovem não
está satisfeito apenas com o ensino médio. Hoje,
o nível de ensino só não garante o emprego",
diz.
O movimento, no entanto, foi puxado pelas instituições
particulares, que tiveram um crescimento de 20,8% (393 mil
matrículas, 2003), contra um aumento de 6,7% na rede
pública (282 mil).
Próximos passos
Em novembro, sai o edital do programa. As entidades
do terceiro setor com experiência em educação
profissional poderão se candidatar. O repasse será
para o material didático, o pagamento de consultores
para desenvolver o conteúdo dos cursos e o salário
de coordenadores pedagógicos.
Após a seleção, as entidades procuram
empresas parceiras, que devem oferecer espaço, bolsa
de meio salário mínimo (R$ 130) por aluno e
instrutores (seus funcionários). As Cefets entram com
o auxilio ao conteúdo pedagógico, a formação
dos instrutores, a verificação dos cursos e
a certificação depois da conclusão.
Os cursos devem ser de 800 horas (aproximadamente um ano)
e deve atender alunos de 15 a 17 anos da rede pública
(a partir da 8ª série do ensino fundamental) com
uma renda familiar per capita de até meio salário
mínimo. Não podem ser filhos de funcionários
da empresa ou da ONG.
LUIS RENATO STRAUSS
da Folha de S.Paulo
|