A vice-diretora-executiva
da Unaids (a agência das Nações Unidas
para a Aids), Kathleen Cravero, disse que o Brasil precisa
criar um modelo de atendimento a usuários de drogas
injetáveis portadores do vírus HIV para não
comprometer o modelo de prevenção e tratamento
implementado no país.
"O Brasil fez tudo: um grande programa de prevenção,
acesso de todos ao programa quando nem se sonhava com isso
em outros países." Mas ressaltou:
"O temor no Brasil é que estamos vendo surgir
o aumento do número de casos usuários de drogas,
e nós precisamos contar com o comprometimento do Brasil
para tratar desse problema."
Kathleen disse que o grande problema envolvendo o tratamento
de usuários de drogas é que eles formam um grupo
que não é "politicamente popular".
Por isso, não existe interesse em cuidar da questão.
"Ninguém fica famoso por colocar dinheiro em
programa de proteção a usuários de drogas.
Esse é um grande problema. É por isso que estamos
vendo a epidemia crescer no Leste Europeu fora do controle".
Política
Kathleen Craveiro disse que a criação
de uma política voltada para os usuários de
drogas é fundamental, evitando que a questão
seja secundária no tratamento e prevenção
a Aids e faz um alerta ao governo brasileiro.
"O Brasil está caminhando para a mesma encruzilhada
em que a Tailândia se encontra. Você precisa olhar
os usuários, criar uma forma para que não procurem
o submundo para compartilhar uma seringa entre dez pessoas,
porque estão com medo de procurar ajuda."
A representante da Unaids tocou em um dos pontos mais polêmicos
e sensíveis sobre o tratamento e prevenção
a Aids: o reconhecimento e tratamento de usuários de
drogas injetáveis.
Em alguns países, os usuários podem procurar
centros de tratamento onde recebem seringas e atendimento,
evitando que compartilhem agulhas e, conseqüentemente,
estejam mais expostos à contaminação
pelo vírus HIV.
"Você precisa criar uma situação
em que os usuários procurem ajuda de servicos de prevenção
sem medo de ser presos, porque você quer salvar a comunidade
toda."
"A gente espera que o Brasil forneça esse modelo
de novo. É um novo desafio. Como eu disse, a epidemia
está sempre mudando e evoluindo. Por isso, é
que nós não a conseguimos conter."
Relatório
O Brasil, segundo a Unaids, concentra um terço
dos casos de Aids da América Latina.
O relatório alerta para o fato que a transmissão
através do uso de drogas injetáveis "não
pode ser subestimada".
Em algumas áreas, segundo a Unaids, a transmissão
do vírus HIV entre usuários de drogas representa
pelo menos a metade dos casos de Aids.
Em 2003, por exemplo, o número de casos de contaminação
entre usuários de drogas injetáveis em Porto
Alegre representava 64% do número de casos na cidade.
CLAUDIA SILVA JACOBS
da BBC Brasil
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