Para
tentar enfrentar o problema de um déficit habitacional
de 7,2 milhões de moradias no país, o Ministério
das Cidades divulgará, ainda esta semana, documento
que estabelece a Política Nacional de Desenvolvimento
Urbano (PNDU) e propõe a exclusão de investimentos
em habitação, saneamento e transporte do cálculo
do superávit primário dos países não
desenvolvidos, cujas metas são estabelecidas em acordos
com o FMI. O documento faz ainda uma radiografia dos problemas
desses setores e fixa metas e diretrizes. O governo também
decidiu apoiar a criação do Sistema Nacional
de Habitação de Interesse Social, que destinará
mais recursos para famílias com renda de até
cinco salários-mínimos.
O secretário de Habitação do ministério,
Jorge Hereda, explicou que o sistema vai permitir a integração
dos programas existentes de financiamento de casa própria
para famílias de baixa renda. Os recursos, dispersos
em municípios, estados e União, serão
reunidos num único fundo.
O governo acredita que, com a criação desse
sistema e a adoção de medidas complementares
como a decisão do Conselho Monetário Nacional
(CMN) de obrigar os bancos privados a financiar habitação
para a classe média, terá mais recursos para
financiar imóveis para famílias de baixa renda.
A estimativa é que as instituições privadas
destinem, em 2005, R$ 12 bilhões para a classe média.
“A pobreza se urbanizou”
Assim, os recursos do FGTS poderão ser destinados prioritariamente
aos mais pobres. Um projeto que tramita no Congresso cria
o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social.
Essa proposta tem o apoio do governo.
"A integração dos programas para famílias
de baixa renda, com a criação de um fundo único,
vai gerar mais recursos para essa faixa da população",
disse Hereda.
Hoje há alguns programas de financiamento para famílias
de baixa renda. Há empréstimos concedidos via
cooperativas e também repasse de recursos do Orçamento
para municípios e estados construírem conjuntos
habitacionais. Na nova política, os recursos estarão
reunidos num fundo nacional administrado por um conselho gestor,
como é feito hoje com o FGTS.
O documento do governo estima que o déficit habitacional
do país é de 7,2 milhões de moradias,
com 92% concentrados em famílias com renda mensal de
até cinco salários-mínimos. O texto prevê
que o déficit será de 12,4 milhões de
habitações em 2023. Para resolver o problema
em 20 anos, o ministério calcula que é preciso
atender 622 mil famílias e investir R$ 12,4 bilhões
por ano.
A secretária-executiva do Ministério das Cidades,
Ermínia Maricato, reconhece que o país vive
uma crise urbana e culpa a falta de políticas para
o setor no passado:
"Vivemos uma imensa crise urbana. A pobreza se urbanizou.
A exclusão social nas cidades potencializou as mazelas
que mostraram a face da pobreza, da ilegalidade e da violência".
Uso de imóveis ociosos
O plano a ser anunciado pelo governo prevê a destinação
do patrimônio imobiliário federal nas cidades
para programas de moradia popular. São imóveis
que pertencem ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)
e à Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e terrenos
da Marinha.
O texto diz que 85 milhões de brasileiros não
têm acesso a água potável e 15 milhões
não dispõem de moradia digna, e aponta a necessidade
de o país investir R$ 178 bilhões em 20 anos
para universalizar os serviços de água e esgoto.
O Ministério das Cidades pretende fazer parcerias
com a iniciativa privada para recuperar e reutilizar imóveis
ociosos, vazios, abandonados e insalubres e destiná-los
a programas de moradia popular. A idéia é aproveitar
imóveis em áreas consideradas menos nobres das
cidades nesses programas.
Na área de trânsito e mobilidade urbana, o programa
do governo quer estimular o uso de veículos alternativos
não-motorizados e o uso racional do automóvel.
O plano também prevê a criação
de sistemas integrados de transporte coletivo urbano e de
corredores integrados de diversos tipos de transportes.
No pacote de políticas urbanas, o governo ainda vai
enviar, em dezembro, projeto de lei ao Congresso criando a
Política Nacional de Saneamento Ambiental, que permitirá
que investimentos estaduais e municipais possam ser combinados
com os recursos privados. No Brasil, cerca de 60 milhões
de pessoas em 9,6 milhões de domicílios urbanos
não dispõem de coleta de esgoto. Desse total,
cerca de 15 milhões (3,4 milhões de domicílios)
não têm acesso à água encanada.
Serão necessários R$ 7,3 bilhões para
acabar com depósitos de lixo a céu aberto em
cidades de até cem mil habitantes até 2011.
EVANDRO ÉBOLI
do jornal O Globo
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