BRASÍLIA.
Preocupado com a repercussão negativa e com o desgaste
político que sofreu este ano, diante da impossibilidade
de cumprir a promessa de dobrar o salário-mínimo
até o fim do mandato, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva já avisou aos ministros da coordenação
política de governo que quer o máximo possível
de reajuste para o mínimo no ano que vem. A ordem foi
dada numa reunião anteontem, da qual participaram,
entre outros, Antonio Palocci ( Fazenda), José Dirceu
(Casa Civil) e o vice-presidente José Alencar.
Na reunião, o presidente considerou que o valor de
R$ 283, que está previsto no Orçamento para
o ano que vem, pode ser aumentado e pediu o esforço
de todos para que, dentro da responsabilidade fiscal, se possa
aumentar o mínimo mais do que isso.
“O máximo que se puder dar será
dado”
O presidente lembrou aos ministros que, em maio deste
ano, quando teve que bater o martelo no salário de
R$ 260, viveu um dos períodos mais desgastantes do
seu governo e que, em 2005, não gostaria de passar
pela mesma angústia. Por isso, o presidente quer que
a definição do novo valor seja feita agora,
juntamente com a aprovação do Orçamento
do ano que vem.
No Congresso, onde já começa a esquentar a
discussão do Orçamento, o relator Romero Jucá
(PMDB-RR), um dos parlamentares da base mais afinados com
o Palácio do Planalto, já pediu aos consultores
da Câmara que descubram recursos para o reajuste do
mínimo. Nem o presidente Lula nem o relator falaram
sobre valores, mas os mais entusiasmados no Congresso já
falam em R$ 300.
" O máximo que se puder dar será dado",
disse Jucá.
Segundo cálculos dos consultores de Orçamento,
caso o salário-mínimo passe dos previstos R$
283 para R$ 290, os gastos da Previdência aumentariam
em R$ 927 milhões no ano que vem. Se subir para R$
300, os gastos da Previdência aumentariam em R$ 2,2
bilhões.
“Orçamento de 2005 tende a ser relativamente
contido”
Mesmo defendendo um salário-mínimo
maior, Lula reconheceu que o Orçamento do ano que vem
está muito apertado e não dará folga
para grandes gastos. Ele pediu aos presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, João Paulo Cunha
(PT-SP), cautela em relação aos gastos.
"O presidente apresentou a mim e ao presidente Sarney
as preocupações do governo em relação
ao Orçamento, no sentido de que o Congresso tivesse
um certo cuidado ao trabalhar as receitas e as despesas. Porque
o Orçamento do ano que vem tende a ser relativamente
contido e todo cuidado é pouco", afirmou João
Paulo Cunha depois do encontro com Lula.
VALDEREZ CAETANO
do jornal O Globo
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