Relatório
divulgado ontem pela ONG internacional Social Watch apontou
o Brasil como um dos países mais violentos do mundo
e empregou a palavra ''genocídio'' ao reportar que,
nas periferias das grandes cidades, a média de jovens
entre 15 e 24 anos assassinados é de 230 por cada 100
mil habitantes.
O estudo pondera que o Brasil não está em guerra,
mas afirma que o índice de mortes violentas nos grandes
centros urbanos condiz com a situação de países
que vivem situações de conflito.
''Análises comparativas com países em guerra
ou em situações de intenso conflito concluem
que houve mais mortes por arma de fogo no Rio de Janeiro do
que em confrontos armados em Angola (1998-2000), Serra Leoa
(1991-1999) Iugoslávia (1998-2000), Afeganistão
(1991-1999) ou Israel (1991-1999)'', compara o relatório,
divulgado ontem na sede das Nações Unidas, em
Nova York.
A radiografia da situação brasileira foi encomendada
ao Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade
Cândido Mendes (Cesec), ligado ao Observatório
da Cidadania, ONG que representa a Social Watch no Brasil.
Os dados do Cesec destacam a má distribuição
de renda entre pobres e ricos e, principalmente, entre negros
e brancos, como um dos responsáveis pela marginalidade
que provoca mortes violentas entre os jovens negros, com idade
entre 15 e 24 anos.
O artigo aponta ainda a demora das autoridades federais e
estaduais na elaboração de políticas
públicas de segurança e afirma que o assunto
virou prioridade apenas na segunda metade dos anos 90.
''Durante os anos 80 e até mesmo na década de
90, predominava o silêncio e a indiferença sobre
mortes violentas entre intelectuais, universidades, mídia
e até mesmo entre as ONGs'', afirma o artigo assinado
por Silva Ramos e Julita Lengruber, respectivamente coordenadora
e diretora do Cesec.
O estudo destaca, no entanto, a importância de iniciativas
do Congresso, como a aprovação do Estatuto do
Desarmamento, em 2003, e a articulação, por
parte da sociedade civil, de grupos de combate à violência.
- Iniciativas criadas pelas maiores vítimas da violência,
movimentos como o Olodum, Afro Reggae, Viva Rio e Sou da Paz,
em São Paulo, foram primordiais para combater este
quadro - afirma Sílvia Ramos.
Entre os vários dilemas que assolam a humanidade, a
Social Watch aponta que ''talvez o melhor exemplo no combate
à Aids esteja sendo dado pelo governo brasileiro, pressionado
pela sociedade civil''. Segundo o documento, ''desde 1996
o Brasil tem oferecido acesso amplo e gratuito ao tratamento
anti-retroviral. Logo no primeiro ano, o programa conseguiu
prolongar o tempo de vida dos portadores de cinco para 58
meses''.
Segundo a Social Watch, atualmente 40 milhões de pessoas
estão contaminadas pela Aids, mas poucas têm
acesso a tratamento de qualidade. O estudo afirma que, na
América Latina, por conta do programa brasileiro, 200
mil pessoas têm acesso ao tratamento contra a doença.
Números que deveriam servir de exemplo para outras
partes do mundo, como a África subsaariana, onde apenas
50 mil pessoas são medicadas contra a doença
mortal, e a Ásia, continente em que só 43 mil
são tratados.
A ONG estabeleceu estudos comparativos entre mais de 100 países
para medir índices de segurança alimentar, saúde,
educação e habitação, entre outros.
Num quadro geral , o Brasil ficou bem-posicionado, com exceção
dos indicadores de Informação, Ciência
e Tecnologia e Gastos Públicos, em que foi comparados
com países como Albânia e Bangladesh.
FERNANDA NIDECKER
do Jornal do Brasil
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