CURITIBA
(PR) - No dia 4 de agosto, Geórgia Vieira Félix,
de três anos, quase perdeu a oportunidade de receber
o transplante de fígado, que ela aguardava desde os
dois anos de idade. Naquela madrugada, a equipe do Hospital
Pequeno Príncipe, em Curitiba, não conseguia
avisar a família, que mora em São José
dos Pinhais e não tem telefone em casa, para que a
levassem ao hospital. Para sorte de Geórgia, os médicos
conseguiram o telefone de um vizinho, que avisou a família.
A urgência em fazer contato com a família existe
porque o órgão doado não pode ficar muito
tempo fora do corpo humano. Para cada órgão
existe um tempo de isquemia tolerância fora do corpo.
O coração, por exemplo, pode ficar no máximo
quatro horas fora do corpo antes da implantação,
o fígado, 18 horas, e o rim, até 36 horas.
Para garantir o contato com os pacientes, em especial aqueles
em lista de espera, o Pequeno Príncipe e a operadora
de celulares Tim Sul firmaram, ontem, Dia Nacional de Doação
de Órgãos, uma nova parceria. Com o nome de
projeto ''Ligando Vidas'', a Tim repassou ao hospital 50 aparelhos
pré-pagos que serão emprestados às famílias
que aguardam a doação de órgãos.
Os pacientes e o hospital não terão custos com
a manutenção do telefone, que ficará
constantemente apto a receber chamadas, mesmo que não
sejam renovados os créditos.
O Pequeno Príncipe, responsável por metade
dos transplantes infantis feitos no Estado, tem 83 crianças
na fila de espera por um órgão, sendo que 49
precisam de rins, 24 de fígado e uma, de coração.
''Muitas dessas famílias não têm telefone,
nem seus vizinhos. E nós precisamos de um jeito rápido
para avisar quando temos um órgão'', diz a diretora
de Relações Institucionais do hospital, Ety
Cristina Forte Carneiro, lembrando que já houve casos
de pacientes que perderam a chance de fazer o transplante
porque a equipe não conseguiu contatá-los a
tempo.
A família de Chaíse Farias dos Santos, de nove
anos, uma das beneficiadas com a parceria, sabe da dificuldade
em conseguir um doador. Por isso, há um ano e meio,
a garota não sai de casa junto com o pai e a mãe,
ao mesmo tempo. Isso porque um dos três sempre tem que
ficar em casa, em Florianópolis (SC), para não
perder e esperado telefonema da Central de Transplantes, caso
apareça um doador de coração para ela.
Geórgia pode ser considerada uma criança de
sorte. Em meio a uma fila que obriga os pacientes a esperarem
três anos, em média, por um doador, Geórgia
já conseguiu fazer dois transplantes. Ao primeiro,
feito em janeiro do ano passado, teve rejeição.
Agora, dois meses após a segunda intervenção,
ela passa bem. ''A cor amarelada já saiu, o mal estar
e a coceira pelo corpo também já passaram'',
conta, aliviado, o pai, Jorge Luiz Félix que espera
que a filha supere a doença de nascença, que
impede o fígado de produzir as enzimas necessárias.
A Central de Transplantes do Paraná tem registradas,
hoje, 3,8 mil pessoas na fila de espera pela doação
de órgãos e tecidos, sendo 140 crianças.
Dados nacionais dão conta de uma fila de 57 mil pacients
em todo Brasil. O índice de doadores do Brasil (de
dez doadores por 1 mil habitantes) corresponde a um terço
da Espanha, onde há 30 doadores para cada mil habitantes.
Em São Paulo, há em média 300 doadores
por ano, quando seriam necessários pelo menos seis
vezes mais para atender a demanda daquele estado.
As informações são
da Folha de Londrina - PR.
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