Em vez
de punir o criminoso, a Justiça criminal deve procurar
reparar ou amenizar os danos gerados pelo crime. Esse é
o ponto de partida da Justiça Restaurativa, um modelo
diferente de conceber as relações entre vítima,
criminoso e punição, e que será debatido
em um seminário internacional em Porto Alegre, no auditório
da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS).
A Justiça Restaurativa foi implantada inicialmente
na Nova Zelândia há dez anos, e, segundo o consultor
em Direitos Humanos Marcos Rolim, tem sido aplicada em projetos
pilotos no Canadá, na Austrália, na África
do Sul e em alguns países da Europa Ocidental. No seminário
em Porto Alegre, que será realizado em 29 e 30 de outubro,
haverá, além de debatedores brasileiros, especialistas
do Reino Unido e da Argentina.
O modelo não se resume à busca por reparação
patrimonial, frisa Renato De Vitto, assessor da Secretaria
da Reforma do Judiciário, ligada ao Ministério
da Justiça: o sistema procura garantir um resultado
que intervenha na realidade social, afirma. “O objetivo
é ir à raiz do problema, buscar respostas que
não sejam algo padrão”, comenta ele, que
esteve na Nova Zelândia para conhecer o funcionamento
da Justiça Restaurativa. Nos julgamentos, dois principais
fatores são ponderados: o que fazer para que o dano
à vítima seja minimizado e para que o infrator
não volte a cometer o crime.
Na Nova Zelândia, o modelo não substitui o Judiciário,
ele o complementa. Um caso só é submetido a
esse sistema se o réu confessar a culpa e, preferencialmente,
se a vítima for um indivíduo facilmente identificado.
O juiz encaminha então o caso a funcionários
do Ministério da Justiça ou da Infância
e do Adolescente, que sondam as partes sobre o interesse em
que o processo corra sob as regras da Justiça Restaurativa.
Se as partes consentirem, é realizada uma reunião
que inclui vítima, infrator, familiares de um e de
outro, representantes da comunidade e assistentes sociais
que conduzem a conferência. Se não houver consenso
sobre a pena, o caso volta ao tipo comum de julgamento; se
houver solução consensual, ela é submetida
ao juiz. Em sua sentença, ele não precisa reproduzir
a decisão da conferência, mas é obrigado
a levá-la em consideração.
O seminário de Porto Alere abre às 19h de 29
de outubro, com o debate “Justiça Restaurativa:
história e pressupostos teóricos”, que
reunirá os estudiosos Roger Smith (Reino Unido), Pedro
Scuro e Renato Sócrates Gomes Pinto. No dia seguinte,
às 9h30, haverá a conferência “Experiência
e resultados práticos com Justiça Restaurativa”,
reunindo o inglês Melvyn Lofty e os argentinos Silvina
Paz e Alejandro Alvarez. O evento termina com o debate “Justiça
Restaurativa, Justiça Criminal e Direitos Humanos”,
com Renato de Vitto, Marcos Rolim e Beatriz Aguisnky.
O evento tem apoio do Instituto de Acesso à Justiça
(IAJ), da organização não-governamental
Justice, do Ministério da Justiça, do PNUD,
do Conselho Britânico, da Associação dos
Juízes do Rio Grande do Sul, do Centro Acadêmica
André da Rocha e do Instituto de Direito Comparado
e Internacional de Brasília.
O apoio do PNUD ao seminário está ligado ao
Programa de Modernização da Gestão do
Sistema Judiciário, executado pela Secretaria de Reforma
do Judiciário. Seu principal objetivo é ampliar
o acesso à Justiça e reduzir a morosidade do
Judiciário.
As informações são
do site PNUD Brasil.
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