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Salários
menores, porém menos concentração de
renda, mais trabalho formal, educação, luz elétrica,
telefone e computador. Assim os brasileiros chegaram ao fim
de 2003, o primeiro ano do governo Lula, que a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada nesta quarta-feira,
acaba de descortinar. Foi o sétimo ano seguido de queda
no rendimento do trabalhador e a maior delas, desde 1997,
quando a remuneração média de quem estava
no mercado começou a despencar. Entretanto, os indicadores
de escolaridade e acesso a bens duráveis continuaram
em alta.
Houve desconcentração de renda de 1993 a 2003.
Os 10% mais ricos, que detinham 49% da renda total em 1993
passaram a deter 45,3% do total. No mesmo período,
os 10% mais pobres, que detinham 0,7%, passaram a deter 1%.
O resultado é que o índice de Gini (que varia
de zero a um, sendo que quanto mais perto de zero, menor a
concentração) caiu de 0,600 em 1993 para 0,555
em 2003, o mais baixo resultado desde 1981. Já em relação
a 2002, as distâncias salariais não se encurtaram
muito: o Índice de Gini naquele ano foi de 0,563.
"Apesar da redução, ainda é um
patamar muito alto. Houve melhora nas condições
de habitação, de escolaridade, de acesso a alguns
bens duráveis, mas há bastante desigualdade.
Avançamos, porém há muito o que avançar",
afirma a analista da Pnad, Vandeli Guerra.
O rendimento médio mensal do trabalhador brasileiro
passou de R$ 747 em 2002 para R$ 692, no ano passado. Uma
queda de 7,4% de um ano para o outro e de 18,8% desde 1996.
Em 1993, ano que antecedeu o Plano Real, o rendimento médio
dos trabalhadores era de R$ 642. A perda real atingiu todas
as categorias na ocupação: dos trabalhadores
domésticos caiu 5,4%, dos que trabalham por conta-própria,
6,6%; e dos empregados e empregadores, 7,5%. Entretanto, perderam
mais os que ganhavam mais. A perda real entre os 50% ocupados
e com os menores rendimentos foi de 4,2%, enquanto a perda
entre os 50% com maiores rendimentos foi de 8,1%.
Outra boa notícia é que, apesar de não
acompanhar o crescimento populacional, o mercado de trabalho
criou mais vagas com carteira assinada. A população
ocupada cresceu 3,6% de 2001 para 2002 e 1,4% entre 2002 e
2003, ou seja, menos da metade do ano anterior e abaixo da
taxa de crescimento da população de 10 anos
ou mais de idade (apta para trabalhar), que foi de 1,9% em
2003. O desemprego passou de 9,2% em 2002 para 9,7% em 2003,
mas houve aumento de 5,5% no número de vagas com carteira
assinada.
" A taxa de desemprego entre as mulheres foi ainda mais
alta devido à forte pressão da população
feminina para ingressar no mercado de trabalho", explica
Vandeli, ao acrescentar que enquanto o indicador de desocupação
da população feminina foi de 12,3%, na população
masculina, o indicador chegou a 7,8%.
Segundo a analista do IBGE, as mulheres não só
estão pressionando mais o mercado como de fato estão
permanecendo mais no mercado. O percentual de mulheres ocupadas,
ou seja, trabalhando em 2003, foi de 44,5%, próximo
aos 43,5% registrados em 1993. Já o percentual de homens
ocupados no ano passado chegou a 67,2%, abaixo dos 71,9% registrados
em 1993. Entretanto, as mulheres continuam a ganhar menos
que os homens. Em 1993, o rendimento médio das mulheres
com mais remuneração de trabalho representava
59% do recebido pelos homens e, em 2003, ficou em 70%.
Na procura por trabalho, aumentou a escolaridade da população
brasileira. Em 1993, de cada 100 jovens de 15 a 17 anos, 40
não estudava. Em 2003, este número caiu para
18. Na outra ponta da escolaridade. Na outra ponta da escolaridade,
os que tinham 11 anos ou mais de estudo eram 14,1% da população
em 1993 e saltaram para 24,9%, em 2003, ou seja, de cada quatro
pessoas, uma tinha 11 anos ou mais de estudo. Eram 25,3 milhões
de pessoas, ano passado foram 35,5 milhões de brasileiros
com mais de 11 anos de estudo. Desses, 19,5 milhões
eram mulheres. A média de anos de estudo dos brasileiros
passou de 5 anos para 6,4 anos, em dez anos. Entre os que
estavam trabalhando, a média de anos de estudo era
de 7,1 anos em 2003.
De acordo com a pesquisa, um em cada cinco brasileiros ocupados
no país trabalha na agricultura. Eram 16,4 milhões
em 2003. E, nessa atividade, o contingente dos trabalhadores
não remunerados caiu, mas o de trabalhadores por conta
própria aumentou 7,2%, de um ano para outro. Também
cresceu o número de trabalhadores com carteira assinada
na agricultura.
Apesar da redução expressiva no trabalho infantil
entre 1993 e 2003 - a proporção de crianças
ocupadas no contingente de 5 a 17 anos de idade baixou de
24,5% para 15,2% entre os meninos e de 13,5% para 8,2%, entre
as meninas - os meninos continuam sendo os mais afetados pelo
trabalho precoce. O percentual é de 7,7% entre os meninos
de 5 a 14 anos e de 3,8% entre as meninas.
"Mas a tendência de queda nesse tipo de trabalho
se mantém", diz Vandeli.
ANA CRISTINA DUARTE
do Globo Online
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