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22/12/2003
Negros planejam "ocupar" salas da USP

Jovens negros da periferia paulistana planejam "ocupar" durante um dia, no começo do ano letivo de 2004, as salas de aulas dos cursos mais disputados da USP (Universidade de São Paulo) -como medicina e direito.

A mobilização, que já está sendo discutida pela Educafro, ONG que organiza cursos pré-vestibulares para carentes, será um protesto para reivindicar cotas para afrodescendentes, num sistema semelhante ao da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Um dos lemas que já foi difundido em cartazes espalhados pela entidade é "Abaixo as cotas de 80% para brancos na USP".

O movimento será mais uma ação simbólica de uma série que começou a ser feita pela Educafro desde novembro para promover a inclusão racial. Na noite de anteontem, no último sábado antes do Natal, a ONG levou mais de cem jovens para uma "ocupação pacífica" do shopping Paulista.

Divididos em grupos de 12, eles tentaram entrar em todas as lojas para saber a quantidade de negros entre os vendedores -em algumas, como na joalheria H. Stern (cujos funcionários foram contatados na hora pela Folha, mas não quiseram se manifestar), foram impedidos por seguranças, sob a alegação de que desrespeitariam a privacidade dos clientes.

O grupo chegou ao shopping às 19h20, depois de ter saído em passeata da rua Riachuelo, no centro de São Paulo. Percorreram os quatro pisos do estabelecimento e, apesar de serem abordados com frequência por seguranças, não houve nenhum tumulto.

Eles entregaram panfletos e um certificado de inclusão racial aos lojistas apontando a proporção de negros entre os funcionários -que, na maioria dos casos, era de 0%. A idéia é voltar ao shopping no ano que vem para verificar se houve mudanças.
Os jovens também fizeram anotações das reações dos clientes e funcionários para discutir nas salas de aula da Educafro.

Algumas foram consideradas "simpáticas", como a de Evaldo Alves, 29, caixa de um quiosque da rede de comida japonesa Gendai. Surpreendendo os manifestantes (para quem ele era branco), Alves se incluiu entre os negros empregados do estabelecimento.

Já Marcelo Henrique Batista, 31, que afirmou ser professor de história, mas que portava um rádio e parecia auxiliar no trabalho dos seguranças, não gostou muito da mobilização. "A causa é coerente, mas não dá para entrar esse monte de gente ao mesmo tempo nas lojas. É época de Natal, quando os vendedores conseguem ganhar alguma coisa a mais, e é preciso ter respeito com os clientes."

No final do evento, às 21h30, eles se concentraram na praça de alimentação, cantaram músicas sobre negros e entoaram frases como "burguesia do shopping/ viemos em paz/queremos inclusão/e nada mais". Passaram ainda nas escadarias que dão acesso aos cinemas do shopping Paulista para fotografar as imagens de mais de 30 artistas -nenhum deles negro- que estão nas paredes.

Nos últimos dois meses, esse tipo de mobilização já havia acontecido nos shoppings Pátio Higienópolis e Iguatemi e em uma agência do banco Itaú.

ALENCAR IZIDORO
da Folha de S.Paulo

 
 
 

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