O presidente
da Câmara, Severino Cavalcanti, sabe que a opinião
pública vai ficar irritada com o aumento dos deputados,
mas imagina que, com o tempo, tudo estará esquecido.
Não tem dúvida de que a medida, apesar de impopular,
será aprovada. Há uma imensa chance de ser mesmo
aprovada, mas não será tão fácil
assim --a cada dia que passa, aliás, ficará
mais difícil.
Se é justo ou não, é outro motivo. O
aumento está virando a síntese da irritação
brasileira, da noção disseminada de que pagamos
muitos impostos e o dinheiro público é desperdiçado.
Isso ocorre em meio a mais uma tentativa de elevação
de impostos que bate na classe média. Podemos estar
diante daquelas situações novas que servem como
marco.
Os deputados estão conscientes de que vão apanhar.
O que talvez não saibam é que vão levar
uma monumental surra cívica, capaz de comprometer,
para alguns deles, a reeleição. Nomes de parlamentares
que votarem a favor do aumento serão expostos pelas
rádios, televisões, jornais, internet. Haverá
um bombardeamento de e-mails. Existem entidades propondo panelaços
e passeatas.
Talvez estejamos vivendo alguns daqueles exemplos cívicos,
tipo campanha das diretas, que ajudam os cidadãos perceber
que os poderosos têm menos poder do que imaginam. E
de que os indivíduos comuns são mais fortes
do que supõem.
Coluna originalmente
publicada na Folha Online, na editoria Pensata.
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