Cristovam
Buarque teve menos de 3% dos votos válidos, o que deveria
colocá-lo na condição de um inexpressivo
candidato. Mas é um vencedor.
Venceu, inicialmente, porque foi o primeiro candidato presidencial
em toda a história do Brasil a colocar a educação
como a prioridade das prioridades. Durante toda a campanha,
bateu na mesma tecla, apesar de saber que isso lhe faria parecer
chato. Disse o que acreditava; e, diga-se, não é
uma invenção de campanha, afinal ele sempre
acreditou na educação com uma chave para o desenvolvimento
nacional. Está na sua biografia ter sido um dos principais
criadores de uma das melhores idéias sociais brasileiras,
a bolsa-escola.
Venceu, também, porque ele está navegando em
uma onda contemporânea, que, com a eleição,
lhe deu visibilidade e o fez recuperar o desgaste de ter sido
ministro de Lula, demitido por telefone. Numa campanha de
poucas idéias, Cristovam se apresentou como defensor
de um projeto não apenas viável mas indispensável
para o país.
Com seus 3%, que significam cerca de 2,5 milhões de
votos, ele apenas adiantou o que, mais cedo ou mais tarde,
um presidente terá de fazer se quiser mesmo tirar o
Brasil da indigência mental e da pobreza material. Ter
idéias, e lutar e ficar sozinho por elas, talvez não
renda votos. Mas dá uma bela história. Já
é uma coisa neste país de gente com muitos votos,
poucas idéias - e quase nenhuma história.
Coluna originalmente publicada na
Folha Online, editoria Pensata.
|