Bem em frente
ao fórum de Pinheiros, acaba de surgir a primeira praça
pública na cidade de São Paulo, onde todas as
árvores são devidamente identificadas com seus
nomes científico e popular, graças ao Departamento
de Botânica da Universidade de São Paulo -a idéia
é, a partir dali, espalhar esse aprendizado ecológico
não somente pelas praças mas também nas
ruas de toda a cidade.
Surge a 1ª praça pública, em São
Paulo, onde as árvores são identificadas com
seus nomes científico e popular
Tudo começou por causa da curiosidade de Rosely Brancaglione,
formada em administração no Mackenzie, com especialização
em marketing na ESPM. Ela preferiu jogar fora seus diplomas
de ensino superior e aprender as artes de uma profissão
em extinção -tornou-se sapateira. "Logo
descobri que não tinha professor nem curso. Acabei
descobrindo um sapateiro que me serviu de mestre", diz.
Acabou, no final, abrindo a sua própria sapataria artesanal.
Quase diariamente ela caminha pela praça Raphael
Spienza, em frente ao fórum de Pinheiros -a praça
foi, na década de 1980, criada na marra, pela comunidade.
Tanto que se chamava informalmente "praça da Comunidade"
até ganhar o nome do político, o que ainda gera
revolta entre antigos moradores, entre os quais o jornalista
Mauro Chaves, que lidera o movimento que busca devolver àquela
área o seu nome original.
Numa dessas caminhadas, Rosely deu-se conta de que não
conhecia o nome de nenhuma daquelas árvores, quase
todas, num espírito comunitário, plantadas por
particulares. "Eu me senti ignorante. E achei que podia
transformar minha ignorância em aprendizado." Ela
foi ao Departamento de Botânica da USP e conseguiu a
ajuda voluntária do professor José Rubens Piran,
que se dedicou a identificar cada um dos espécimes,
alguns deles frutíferos. Trataram, então, de
afixar os nomes científico e popular das árvores
em cada uma delas, imitando um jardim botânico. "Adorei
a sensação de ficar andando entre aqueles seres,
agora conhecidos. Não podia imaginar que, num espaço
tão pequeno, havia tamanha diversidade."
No Dia da Árvore, a ser comemorado amanhã na
praça, Rosely Brancaglione se propõe a ir mais
longe: arregimentar um exército de crianças
e adolescentes para, junto com estudiosos em botânica,
aprender sobre as árvores da cidade, identificando-as
com seu nome popular e científico.
Enquanto esse "exército" não chega,
ela encontrou dois meios de compartilhar suas conquistas e
buscar aliados. Fotografou as árvores e as colocou
num site (www.vilamada.com.br).
Além disso, está percorrendo escolas públicas
e privadas do bairro de Pinheiros para que os alunos possam
fazer ali visitas monitoradas, aprendendo sobre botânica.
Quem sabe, imagina Rosely, se, sensibilizados, eles não
se sentiriam dispostos a reproduzir a experiência pelas
ruas e ajudar a fazer de São Paulo um imenso jardim
botânico. "Isso faria com que preservássemos
mais nossa já escassa natureza."
Coluna originalmente
publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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