"Dar
aulas de ciências sem vinculação com o
cotidiano é o meio mais rápido de afastar os
alunos do aprendizado"
Aníbal de Figueiredo inventou um circo mambembe
não para desafiar as leis da física - a da gravidade,
por exemplo -, mas para ensiná-las. No lugar de palhaços,
malabaristas e domadores de animais, alunos de pós-graduação.
Em comum, apenas a vontade de divertir. "As experiências
científicas são um grande prazer."
Por falta de alternativa, Aníbal deixou Macapá,
onde nasceu, mudou-se para Belém e entrou numa faculdade
de física. Veio, então, para a Universidade
de São Paulo e fez seu mestrado em educação,
interessado em novas formas de ensinar física, longe
da decoreba das fórmulas. "Dar aulas de ciências
sem vinculação com o cotidiano é a mais
eficiente e rápida forma de afastar os alunos do aprendizado."
Na sua visão, conhecer as leis do universo fazendo
experiências é, antes de mais nada, um jeito
de aprender a viver melhor. "Sou dos que acreditam que
a ciência faz os seres humanos mais felizes."
A partir do mestrado, ele desenvolveu experimentos de física
com sucata -os alunos tinham de inventar, a partir dela, brinquedos.
Começou a treinar professores da rede pública
a usar sucatas nas aulas de ciências e, aos poucos,
sistematizou o seu método. "É uma simples
questão de cidadania que todos conheçam os conceitos
básicos da ciência para que entendam, por exemplo,
o efeito estufa."
Com a participação de outros professores, ele
ajudava a oxigenar as aulas nas escolas. Mas passou a achar
que isso era pouco. "Queria ir para a rua."
Ir para a rua significou, inicialmente, envolver-se na produção
de uma peça de teatro para crianças e adolescentes,
acompanhada de um laboratório para as mais diversas
experiências.
Estava, então, a um passo de ir mesmo -e começava
a tomar forma o circo mambembe. "Por que o povo, as pessoas
mais humildes, não tem direito de saber por que o céu
é azul?"
O circo da física se propõe a instalar-se em
praças, parques, favelas, mudando a cada semana. Ali,
além de exposições práticas sobre
ciência e o cotidiano -como o porquê do azul do
céu- serão mostradas engenhocas feitas de sucatas,
e os participantes serão convidados a construir brinquedos
educativos.
Sua maior vontade é levar o circo até o centro
de São Paulo e instalá-lo, mais precisamente,
em cima do elevado Costa e Silva, o Minhocão, aos domingos,
quando a via é fechada para os automóveis. Tudo
isso sempre com o apoio de estudantes de pós-graduação
do Instituto de Física.
"Queremos seduzir as pessoas com a magia da transformação
e dos movimentos." Assim, segundo ele, elas se encantariam
com as piruetas de um trapezista suspenso no ar. Ou com os
malabares que resistem à lei da gravidade.
O próprio circo da física é uma experiência
que será testada nos próximos oito meses. Se
conseguir sucesso, talvez fique para sempre como parte da
paisagem paulistana.
Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo,
editoria Cotidiano.
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