Aos 13,
Sérgio tentava deixar mais potente o carro do pai.
Hoje, aos 38, testa filtro que reduzirá poluição
em veículos
As experiências de Sérgio Sangiovani, ainda
com 13 anos, começaram na garagem de sua casa, em Santana,
quando tentava inventar meios para deixar mais potente o motor
do carro de seu pai -o motor se fundiu e a casa quase pegou
fogo. Gostava de desafiar princípios da aerodinâmica
e construía exóticos aviões com os mais
diferentes materiais e formatos. "Nunca voavam",
reconhece.
Fragmentos de sua curiosidade -peças de relógios,
de rádios e de televisores -se espalhavam pela cozinha
e a sala de estar. "Minha mãe, coitada, ficava
desesperada com a bagunça." A bagunça não
foi em vão.
Ele está, agora, aos 38 anos, na reta final dos testes,
em parceria com a Universidade de São Paulo, de um
aparelho que, instalado nos veículos, evitaria doenças
e até mesmo mortes: estima-se que pelo menos oito mortes
ocorram por dia na cidade devido à poluição,
boa parte dela produzida pelos automóveis, caminhões
e ônibus.
Ficaram bem longe os tempos da garagem-laboratório,
que se prestava também para seus ensaios musicais.
Tocava, na banda, guitarra. "Vivia arrumando confusão
com os vizinhos por causa do barulho." Entre seus colegas,
havia um incansável baterista. Como não podia
deixar de ser, Sérgio cursou engenharia e, anos depois,
ao se envolver com questões de meio ambiente, interessou-se
em melhorar os filtros dos veículos para combater a
poluição.
"Os filtros não funcionavam bem para conter as
menores partículas geradas pela combustão dos
motores." São justamente essas partículas
as mais ameaçadoras para o sistema respiratório,
trazendo o risco de câncer.
Daí aquela estatística fúnebre, levantada
pelo Laboratório de Poluição Atmosférica
do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP.
De acordo com esse centro de pesquisa, alguém exposto
constantemente à poluição é como
se fumasse cinco cigarros todos os dias. Estimulado por esse
tipo de informação, Sérgio tirava dinheiro
do próprio bolso para bancar as pesquisas, realizadas
nas horas vagas, para neutralizar as partículas (o
nome científico é PM 2,5), muitas vezes menores
do que o diâmetro de um fio de cabelo.
A improvisação laboratorial acabou quando uma
empresa americana (Sabertec) especializada em tecnologia para
preservação do meio ambiente resolveu bancar
as experiências do filtro desenvolvido por Sérgio.
Depois de vários anos de testes, chega-se, neste momento,
à reta final. Com apoio da Secretaria Municipal do
Verde de São Paulo e fiscalização de
pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP, um ônibus
está rodando com o filtro. Seus resultados são
promissores, e até o final do mês sairá
um laudo definitivo.
A idéia é instalar o aparelho inicialmente nos
ônibus e, depois, nos demais veículos movidos
a diesel, álcool e gasolina. "Queremos ir bem
mais longe." A empresa americana trataria, então,
de dar escala mundial à invenção, iniciada,
de verdade, na bagunçada garagem de uma casa em Santana.
Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo,
editoria Cotidiano.
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