BRASÍLIA.
Os acidentes e as doenças do trabalho custam pelo menos
R$ 20 bilhões ao Brasil por ano, segundo o coordenador
da área técnica de saúde do trabalhador
do Ministério da Saúde, Marco Perez. O valor,
calculado pelo professor da Faculdade de Economia e Administração
da Universidade de São Paulo (USP), José Pastore,
foi obtido com base nos gastos da Previdência Social
e do sistema público de saúde com os trabalhadores
doentes ou acidentados.
De acordo com Marco Perez, existem ainda custos indiretos,
como o aumento dos seguros de empresas em que os trabalhadores
precisam atuar em condições de risco, e outros
que são imensuráveis.
”Se um trabalhador tem um acidente quando é
jovem, ele não terá condições
de dar um retorno aos investimentos feitos em sua educação
e formação profissional, mas não é
possível medir o impacto disso para a economia ou para
a família da pessoa afetada”, disse o coordenador.
Medo de retaliação
Outro problema grave que afeta o mercado, segundo Perez, é
o fato de a maior parte dos trabalhadores não registrar
acidentes ou doenças do trabalho. O coordenador afirmou
que a Organização Mundial de Saúde (OMS)
estima que, no Brasil, apenas 4% das doenças e acidentes
são registrados. Isso ocorre porque os funcionários
têm medo de perder o emprego e porque os médicos
não identificam a origem dos problemas de saúde
dos trabalhadores.
”Um médico diagnostica um trabalhador com lesão
por esforço repetitivo (LER), mas não a origem
do problema”, disse Perez.
Ele afirmou que o fato de o volume de registros de doenças
do trabalho ter crescido no país não significa
necessariamente que o número de casos aumentou ou que
houve relaxamento das autoridades em relação
ao problema. Em 2002, último ano com dado disponível,
foram registrados 387 mil acidentes, com 2.898 mortes. No
ano anterior, foram 340 mil acidentes e 2.753 mortos. Para
Perez, o número pode ter crescido porque o diagnóstico
dos problemas de saúde causados pelo trabalho está
mais eficiente devido aos investimentos feitos na área
de acompanhamento.
Em 2003, o Ministério da Saúde liberou R$ 17
milhões para a construção de 60 centros
de referência em saúde do trabalhador. Os centros
são especializados no treinamento de profissionais
de saúde para fazer o diagnóstico de doenças
ligadas ao trabalho. Para 2004, estão previstos recursos
de R$ 40 milhões a R$ 60 milhões para a criação
de 70 centros de referência. Os recursos também
servirão para fazer o acompanhamento de registros de
acidentes.
MARTHA BECK
do jornal O Globo
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