O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva enalteceu ontem o seu governo
ao dizer que 2005 deverá ser o ano "mais importante
da década", quando o país crescerá
5% do PIB "ou um pouco mais". Demonstrando confiança,
mandou um recado a adversários: "Quem deve estar
preocupado com a eleição de 2006 não
sou eu".
Embora tenha feito uma previsão, Lula disse não
querer "discutir números" e criticou analistas
econômicos, a quem chamou de "deuses das estimativas".
O BC prevê 4% de crescimento neste ano, e o mercado,
segundo pesquisa com analistas, 3,6%.
"A prudência de 2003 e de 2004 me permitem chegar
em 2005, na inauguração de uma obra extraordinária
como esta, e dizer: não tem por que 2005 não
ser o ano mais importante da década neste país",
disse Lula na inauguração da Usina Monte Claro
(RS).
Lula falou que o país está "predestinado"
ao desenvolvimento e que não perdeu "um milímetro
de tranqüilidade", mesmo com "centenas de acusações,
embates" e até "denúncias caluniosas".
ECONOMIA - "Eu, de vez em quando, não ironizo
porque não é bom brincar com números,
mas quando vejo os deuses das estimativas começarem,
em janeiro, a dizer o que vai acontecer em dezembro, fico
pensando: será que essas pessoas não acreditam?
Será que nós somos estáticos, que não
fazemos as coisas mudarem? Estão lembrados que, no
ano passado, a previsão era 3,5%? Não foi 3,5%,
foi 5%. Este ano penso que poderemos crescer 5% ou um pouco
mais. Vai depender da tomada de posição do governo
para ser o indutor da confiança para que a gente possa,
definitivamente, dormir toda noite sossegado, porque este
país não será pego de sobressalto com
nenhuma aventura irresponsável e, muito menos, voltaremos
a ter apagão."
ELEIÇÃO - Segundo Lula, quando há eleição,
a cabeça do político não pensa em outra
coisa: "Em vez de pensar o futuro do país para
daqui a 30 anos, começa a fazer curativos, começa
a fazer obras imediatas que, às vezes, não produzem
nada ao longo do tempo. Nós não iremos fazer
isso. Quem deve estar preocupado com a eleição
de 2006 não sou eu, porque tenho um mandato até
dia 31 de dezembro de 2006".
DESTINO E CALÚNIAS - Lula falou sobre a dificuldade
de aprovar projetos, como o marco regulatório do setor
elétrico. "Não pensem que não foram
centenas de acusações, embates, críticas,
às vezes denúncias caluniosas. E, em nenhum
momento, nós perdemos um milímetro de tranqüilidade,
porque estamos predestinados a não perder a chance
que este país tem hoje de um ciclo de crescimento sustentável
que possa durar 10, 15 ou 20 anos."
ORÇAMENTO - O presidente disse que até abril
fará encontro com empresários sobre investimentos:
"Quais são as coisas que o Brasil precisa, quais
são as coisas que os empresários podem fazer
por conta própria, quais são as coisas que o
BNDES tem que acionar em investimento, quais são as
coisas que nós temos que procurar investidores estrangeiros?".
"Se depender do Orçamento, podemos fazer muito
pouco neste país."
LRF - Sem citar a ex-prefeita de São Paulo, Marta
Suplicy (PT), acusada por adversários de ter descumprido
a Lei de Responsabilidade Fiscal em sua gestão, Lula
aconselhou prefeitos: "É importante esperar cair
no caixa para começar a gastar, porque senão
poderão ser pegos pela Lei de Responsabilidade Fiscal,
por terem gasto o que ainda não existia".
AMIGOS DOS FILHOS - Ao defender o Ibama, órgão
do governo acusado de não colaborar com o investimento
privado ao atrasar a concessão de licenças ambientais,
Lula disse que às vezes procuramos ""erros
nos amigos dos nossos filhos". Na semana passada, fotos
mostraram amigos do filho caçula de Lula usando avião
da FAB e lancha da Marinha durante férias em Brasília.
"Queremos fazer as coisas tal como precisam ser feitas,
e não culpem o Ibama, por favor, porque nós
costumamos procurar um culpado, seja na casa da gente, quando
um filho comete um erro, em vez de a gente olhar se nós,
os pais, somos os culpados, nós ficamos procurando
o erro na casa do vizinho, nos amigos dos nossos filhos."
JULIA DUAILIBI
da Folha de S. Paulo.
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