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ensinar a pescar
11/01/2005
Projeto tira jovens da exclusão social e os leva para o mercado de trabalho

O que têm em comum um laboratório farmacêutico, uma loja de departamentos, uma fábrica de alto-falantes, uma construtora e indústrias têxteis, de calçados ou de peças de transmissão mecânica? Todos fazem parte da mesma rede de franqueados.

Mas que franquia é essa que reúne empresas de tão diferentes perfis? Uma franquia de inclusão, capacitação e educação para o mercado de trabalho: o Projeto Pescar - Educação e Profissionalização de Adolescentes em Situação de Risco Social, que está cadastrado no Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil. O verbo pescar no nome do projeto tem dois sentidos: o do antigo provérbio chinês que coloca o ensinar a pescar como mais importante do que dar o peixe e o de pescar os jovens para fora de um universo de exclusão social.

“Nós praticamos pescaria de gente em situação de risco social”, orgulha-se Rose Linck, responsável pelo projeto e vice-presidente da Fundação Projeto Pescar. A iniciativa existe há 28 anos e foi idealizada por Geraldo Linck, marido de Rose, para sua revendedora de máquinas e equipamentos rodoviários, instalada em Porto Alegre (RS). Em 1995, foi criada a Fundação Projeto Pescar, uma organização não governamental.

As empresas franqueadas abrem espaço, em suas próprias dependências, para a formação pessoal e profissional de adolescentes de baixa renda, depois os encaminhando ao mercado de trabalho. Os jovens do Projeto Pescar não trabalham nas empresas enquanto estão freqüentando o curso: realizam apenas atividades práticas de aprendizado.

O trabalho da fundação é disseminar o conhecimento adquirido nas quase três décadas de existência do projeto, oferecendo suporte e orientação técnica aos franqueados. Hoje, são 73 unidades, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Ceará e no Distrito Federal. Todas juntas, por ano elas oferecem aproximadamente mil vagas para aprendizes, e pelo projeto já passaram quase nove mil jovens. Destes, 30% eram meninas.

O sucesso desta franquia social já ultrapassou as fronteiras do Brasil. Atualmente, há quatro unidades do Projeto Pescar na Argentina. Para Rose Linck, o que faz com que a fórmula tenha tanta repercussão é a possibilidade de a empresa ter atitudes de responsabilidade social controlando o resultado de suas ações. “As pessoas querem fazer alguma coisa na área social, mas querem manter sua filosofia nas ações. A maioria de nossas escolas fica dentro da empresa. Então, os franqueados conseguem controlar a aplicação do seu investimento”, analisa. O custo para a manutenção de uma unidade do projeto varia de 36 mil a 50 mil reais por ano.

A idéia é que toda empresa socialmente responsável, independente de seu porte, área de atuação e localização geográfica, possa participar do Projeto Pescar, seja como franqueada, mantenedora, apoiadora ou empregadora, acolhendo os jovens formados.

O laboratório clínico Sabin, com sede em Brasília (DF), entrou para a rede de franqueados em 2004. “Há alguns anos, temos diversas atividades dentro de um projeto de responsabilidade social do laboratório. Trabalhávamos com crianças e com idosos. Então, conheci o Projeto Pescar e achei muito interessante e prático para estruturar, por ser uma franquia”, conta Sandra Soares Costa, sócia-proprietária do laboratório.

Preparação global
O Projeto Pescar oferece muito mais do que informações técnicas para o exercício de uma profissão nas áreas da indústria, comércio ou prestação de serviços: ele estimula os jovens a adotarem novos hábitos e terem atitudes para a boa convivência e o exercício da cidadania. “Hoje, atendemos a 11 áreas de qualificação. Mas em 60% do seu conteúdo o currículo é igual para todas as empresas, com temas voltados para cidadania”, explica Rose Linck.

Os jovens atendidos têm entre 15 e 18 anos e recebem orientação para enfrentar o mercado de trabalho em todos os aspectos, desde o momento em que vão para a entrevista de emprego até a necessidade de analisar suas atitudes no caso de passarem por demissão.

“Tentamos instrumentalizá-los para o mercado de trabalho como um todo e temos um bom índice de empregabilidade. Os 15 que se formaram nas lojas Renner em 2004, por exemplo, estão empregados. Nem todos ficaram na própria franqueada, foram absorvidos pelo mercado”, ressalta Rose Linck. Em média, 80% dos jovens que são formados anualmente conseguem espaço no mercado formal de trabalho e 8% se tornam pequenos empresários.

Em termos de atividades profissionais, estes jovens aprendem eletricidade, serviços gerais, mecânica, atendente de vendas a varejo e, em 2005, haverá também formação em trabalhos na área rural. A média de tempo dos cursos é de nove meses. É um período de aprendizado e convívio com o ambiente de trabalho e com profissionais de diversas áreas.

No caso do Sabin, de Brasília, não era possível oferecer a formação nos trabalhos técnicos realizados no laboratório, mas 15 jovens foram formados na área administrativa da empresa, como auxiliares administrativos. Em uma das unidades do laboratório, em uma cidade-satélite de Brasília, foram montados uma sala de aula e um refeitório. Uma psicopedagoga foi contrata especialmente para acompanhar a nova unidade do Projeto Pescar e os demais funcionários se envolveram voluntariamente no projeto.

Há três décadas, quando o Projeto Pescar foi implementado no Rio Grande do Sul, a reação dos funcionários não era tão boa. Rose Linck lembra que alguns achavam que se a empresa estava fazendo uma ação social, deveria fazer para beneficiar os filhos de funcionários e não pessoas da comunidade, sem vínculo direto com a empresa. “Hoje, eles percebem que podem exercer a sua vocação para o voluntariado por meio deste contato”, comemora.

Critérios sociais de escolha
Na hora de determinar quem serão os aprendizes, cada empresa faz a sua seleção, orientada pela Fundação Projeto Pescar. A idéia não é ficar com os que apresentam as melhores habilidades para as funções e sim com os que mais precisam. “Nós sempre pedimos que eles escolham os que não vão ter outra chance”, diz Rose.

Sandra Costa, do laboratório Sabin, lembra do momento da seleção: “Divulgamos, em comunidades carentes e por veículos de comunicação, que ofereceríamos oportunidade para 15 jovens em situação socioeconômica de risco. Apareceram quase 150 adolescentes. Selecionamos os 15 dentro dos critérios de necessidade.” Em novembro, estes aprendizes estavam formados e oito já estão no mercado de trabalho, sendo que quatro foram contratados pelo próprio laboratório. “Nosso compromisso é encontrar oportunidades para todos e estamos trabalhando por isso”, observa Sandra.

Se no Distrito Federal os candidatos a aluno logo começaram a aparecer, os parceiros também não demoraram e Sandra agradece: “Tivemos várias parcerias, como a escola que ofereceu aulas de informática, e supermercados e indústrias alimentícias, que todos os dias enviavam frutas e outros suprimentos para o café-da-manhã dos alunos.”

Os alunos devem freqüentar a escola regular e participam no projeto no horário contrário. Eles não recebem remuneração, mas, em geral, as empresas oferecem alguns benefícios que dão aos funcionários, como acesso a atendimento médico e odontológico, cestas básicas e outros.

Para os próximos anos, Rose Linck quer continuar aumentando o número de franqueados – chegando a cem unidades em 2005 – e criar um instrumento de acompanhamento dos jovens no mercado de trabalho. “A idéia é ter um acompanhamento da vida profissional destes jovens após a formatura, para ter uma visão melhor do nosso trabalho. Quando um egresso é dispensado de um emprego, precisamos ter o retorno do que aconteceu, saber o motivo. E eles também precisam ter o entendimento de que as coisas têm dois lados e isso acontece”, planeja Rose Linck.


SANDRA FLOSI
da Fundação Banco do Brasil

   
 
 
 

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