A desvalorização
do dólar e a elevação da taxa básica
de juros da economia refreou as expectativas para 2005 da
indústria de máquinas e equipamentos e construção,
os dois setores cuja movimentação mais indica
o que ocorre com os investimentos.
No caso de máquinas e equipamentos, o crescimento nominal
esperado (sem descontar a inflação) para o faturamento
neste ano é de 5%. A inflação oficial
esperada para o período é de 7,5%. O faturamento
do setor em 2004 foi de R$ 45 milhões, 28,7% a mais
do que o ano retrasado.
Já a construção civil espera um crescimento
de todos os bens e serviços gerados pelo setor da ordem
de 4,6% neste ano, ante um aumento de 6,8% estimado para 2004,
segundo o Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção
Civil), que avalia seu desempenho por meio do cálculo
de uma espécie de PIB (Produto Interno Bruto) da construção.
O resultado deve ser abaixo do de 2004, segundo a entidade,
principalmente por causa das elevações na taxa
básica de juros da economia, a Selic, a partir do último
trimestre do ano passado.
"Para 2005 tudo caminharia para números bons,
não fossem fatores adversos como o dólar, que
vai prejudicar o crescimento do setor, a alta no preço
do aço e a queda das cotações das commodities
no mercado internacional", afirma o presidente da Abimaq
(Associação Brasileira da Indústria de
Máquinas e Equipamentos), Newton de Mello.
Mercado interno
A percepção da indústria como um todo
é que as vendas externas não devem seguir na
toada do ano passado porque, além do movimento do câmbio,
os preços internacionais estão em queda e a
tendência é a de desaceleração
da economia mundial.
Dessa forma, as luzes se voltam cada vez mais para o mercado
interno. A reação do emprego e da renda deve
possibilitar um ciclo virtuoso, incentivando mais produção
e postos de trabalho.
"O mercado doméstico e a indústria serão
os principais elementos de crescimento para o próximo
ano, substituindo agricultura e exportações.
É um movimento que já ocorreu em 2004",
analisa Flávio Castelo Branco, economista da CNI (Confederação
Nacional da Indústria).
A recuperação de vagas, diz, já é
capaz de sustentar a demanda neste início de ano. "O
crescimento do emprego não será tão forte
quanto em 2004. Mas a trajetória de recuperação
do consumo das famílias e do investimento vai continuar
tendo um impacto positivo no mercado de trabalho."
O setor produtivo trabalha com um cenário de crescimento
de 3,5% do PIB, na média, para 2005. A indústria
deve crescer de 4% a 4,5% -o crescimento em 2004 foi de 7%.
O saldo da balança comercial também deve recuar.
A expectativa da CNI é que o saldo neste ano seja positivo
em US$ 28,5 bilhões. Em 2004, foi de US$ 33,7 bilhões,
conforme o divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento
na segunda-feira. Para o PIB, a CNI espera 3,7% de alta, em
um cenário em que o câmbio termine o ano em R$
3,15.
A Fiesp (Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo) trabalha com dois cenários.
O primeiro -que presume redução dos gastos públicos
e de juros- prevê crescimento do PIB de 4%. O segundo,
mais pessimista, estima um crescimento de 3%.
"A manter-se a atitude conservadora do BC, o cenário
mais provável é o negativo", diz Paulo
Francini, diretor do departamento de economia da entidade.
Para Claudio Vaz, presidente do Ciesp (Centro das Indústrias
do Estado de São Paulo), a indústria deve crescer
de 4% a 4,5% em 2005, ante 7% em 2004 ante o ano anterior.
"Justo em um momento em que o mercado interno começa
a perder gás, por conta da alta nos juros, vai haver
uma entrada de produtos importados com as quais as empresas
vão ter dificuldade de competir", afirma.
MAELI PRADO
da Folha de S. Paulo
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