Para
responder à necessidade de elevar os pagamentos da
dívida pública e manter o patamar dos gastos
sociais, o governo Lula recorre a um expediente comum nos
últimos anos: elevar a carga de tributos considerados
socialmente injustos.
São os chamados tributos indiretos, que incidem sobre
a produção e o consumo. Como eles acabam embutidos
nos preços dos produtos e serviços, têm
um impacto maior sobre os mais pobres do que sobre os mais
ricos.
De acordo com os dados oficiais, os tributos diretos, que
incidem sobre a renda e o patrimônio, perderam participação
na arrecadação administrada pela Receita Federal
-passaram de 42,7% do total para 41,9%.
No ano passado, cresceu a arrecadação das principais
tributos indiretos federais, duas contribuições
destinadas à área social: o PIS (Programa de
Integração Social) e a Cofins (Contribuição
para o Financiamento da Seguridade Social).
Somadas, as receitas de ambas passaram de 4,8% para 5,1%
do PIB (Produto Interno Bruto). Neste ano, o governo estenderá
a cobrança de PIS e Cofins aos produtos importados.
O movimento vai na contramão do que a própria
área econômica considera um sistema tributário
justo. Segundo estudo elaborado pela Fazenda no ano passado,
os tributos indiretos subtraem quase 25% da renda dos 10%
mais pobres da população; para os 10% mais ricos,
a perda com esses impostos e contribuições é
pouco superior a 10%.
Ainda segundo o documento, a tributação da
renda pessoal responde por apenas 6% da receita pública
brasileira, enquanto nos países desenvolvidos a proporção
média é de 27%.
Motivos
Se é assim, porque o governo opta por aumentar os tributos
indiretos? Uma primeira explicação é
que, em razão de o Brasil não ser um país
de renda alta, dificilmente um sistema tributário baseado
em impostos e contribuições diretas seria capaz
de arrecadar tanto -a carga tributária brasileira chega
a 36% do PIB, bem acima do padrão dos países
de economias emergentes.
Outra razão: os tributos indiretos são mais
fáceis de cobrar e dão menos margem à
sonegação do que, por exemplo, o Imposto de
Renda. Isso explica, por exemplo, a permanência de uma
contribuição que deveria ser provisória,
a CPMF.
O governo federal tem mais um motivo para preferir tributos
indiretos, em especial as contribuições sociais:
diferentemente do que acontece com a arrecadação
do IR, a das contribuições não precisa
ser compartilhada com os Estados e os municípios.
Há ainda, é claro, dificuldades políticas
para elevar a tributação direta sobre as camadas
mais abastadas. O governo FHC, por exemplo, chegou a defender
a elevação da alíquota máxima
do IR de 27,5% para 35%, mas o Congresso rejeitou a idéia.
Com o argumento de que assim tornaria a tributação
e o gasto público mais justos, o Planalto propôs
no ano passado as reformas da Previdência e tributária.
Nesta última, porém, os resultados ficaram muito
aquém do prometido.
Caíram no Congresso as propostas de aumento dos impostos
sobre o patrimônio, e a Fazenda acabou não concluindo
o projeto de reforma do IR. Já a CPMF foi prorrogada
até 2007, e a carga do PIS e da Cofins foi elevada.
As informações são da Folha de S. Paulo,
sucursal de Brasília.
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