BRASÍLIA.
O Congresso, que há cinco anos discute a implantação
de cotas no ensino público, vem deixando em segundo
plano o critério racial para a distribuição
dessas vagas. Entre os 22 projetos de lei sobre o assunto
que tramitam desde 1999, apenas quatro tratam da reserva de
vagas para negros e indígenas. Os demais criam cotas
para estudantes de escolas públicas ou alunos carentes.
O grande número de projetos sobre a criação
de cotas no ensino superior que tramitam no Congresso foi
uma das razões para o governo desistir da medida provisória
que reserva vagas nas universidades públicas. Em vez
disso, o governo optou por fazer mais um projeto de lei. Na
avaliação do governo, o assunto já vem
sendo intensamente debatido para ser atropelado por uma medida
provisória.
Reunião
De acordo com o ministro da Educação, Tarso
Genro, que tratou do assunto numa reunião com o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Coordenação
Política, Aldo Rebelo, a mudança foi estabelecida
para prestigiar o Congresso. Os parlamentares reclamavam de
serem deixados de lado em mais uma proposta polêmica
da educação.
Os projetos são semelhantes, apesar de estipularem
números diferentes de vagas a serem reservadas e de
incluírem critérios diversos para considerar
alguém carente. Eles foram unidos a uma das propostas
vindas do Senado, para que seja feito um substitutivo.
Esse projeto, de 1999, prevê que 50% das vagas nas
universidades públicas sejam reservadas para estudantes
que cursaram todo o ensino fundamental e o médio em
escolas públicas. Há outros projetos que consideram
suficiente o estudante ter cursado apenas o último
ano do ensino médio na rede pública.
Quatro projetos não levam em consideração
onde o jovem estudou, mas a renda familiar. No entanto, a
comprovação e o limite considerado para baixa
renda diferem consideravelmente. Uma das propostas não
estabelece limite de renda, apenas uma comprovação
por documentos. Outra reserva 50% das vagas para estudantes
com renda familiar inferior a 12 salários-mínimos
(hoje R$ 2.880).
Em outro projeto, é considerado carente o jovem oriundo
de uma família com renda inferior a cinco salários-mínimos
(R$ 1.200). O quarto projeto estabelece como limite a isenção
do Imposto de Renda (hoje de R$ 1 mil). Ainda há a
proposta de reserva de vagas para estudantes carentes que
trabalhem com carteira assinada.
Segundo plano
Ao menos no Congresso a questão racial ficou em
segundo plano. Entre os quatro projetos que existem hoje,
dois reservam 20% das vagas apenas para negros, outro propõe
o mesmo índice para negros e indígenas e um
garante vagas para índios aprovados em vestibulares,
independentemente das demais vagas existentes.
O projeto que deverá ser apresentado pelo governo
está nas mãos da Secretaria de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial e da Casa Civil.
Apesar da defesa feita por Tarso de que as cotas devem ter
um componente social ainda não se sabe qual será
sua versão final.
As informações são do jornal O Globo. |