Para acabar
com a guerra pelo controle do tráfico na Favela da
Rocinha, que começou na madrugada da Sexta-Feira Santa
e já deixou oito mortos, o governo do Estado do Rio
de Janeiro anunciou, ontem, que vai cercar parte do morro
com um muro de três metros de altura. Além da
Rocinha, também serão parcialmente muradas as
favelas do Vidigal; do Parque da Cidade, na Gávea;
e da Chácara do Céu, no Leblon. O anúncio
foi feito pelo vice-governador e secretário estadual
de Meio Ambiente, Luiz Paulo Conde. Autor da idéia,
Conde informou que telefonou de manhã para a governadora
Rosinha Matheus e para o secretário de Segurança,
Anthony Garotinho, e os dois aprovaram o projeto.
"É um plano emergencial para começar já.
A governadora e o secretário aprovaram. Vamos evitar
com isso que as favelas continuem a se expandir, destruindo
uma Área de Proteção Ambiental (APA)
e ainda que os traficantes usem a mata como caminho para suas
incursões. É uma medida para proteger os moradores
dessas comunidades", disse Conde, lembrando que começa
a trabalhar hoje no projeto.
O plano do governo inclui ainda a ocupação
social das quatro favelas — com equipes que farão
atendimentos médico e odontológico, por exemplo
— e uma ocupação policial para identificar
e prender os principais traficantes de drogas.
"A violência da Rocinha não é um
problema específico do Rio. É um problema que
atinge outros estados. É uma questão nacional.
E é preciso que o governo federal compreenda isso,
repassando recursos e criando mecanismos que impeçam
o bandido daqui de receber armas e drogas de fora", afirmou
Conde.
O governo federal até agora não se manifestou
sobre a guerra na Rocinha, que tem levado o terror à
comunidade desde sexta-feira.
Para secretário, idéia é viável
O arquiteto Sérgio Magalhães, da Secretaria
estadual de Desenvolvimento Urbano, disse que a idéia
de Conde é perfeitamente viável. Segundo ele,
é preciso “conter a expansão das favelas
para a mata”:
"O controle tem que ser feito. Se não fizermos
a contenção, nenhum esforço do governo
de levar a essas comunidades serviços de infra-estrutura
terá sucesso".
Sérgio Magalhães lembrou que em 1993, quando
ainda trabalhava na prefeitura, ele coordenou um projeto de
delimitação das favelas do Vidigal e da Rocinha:
"Fincamos estacas com fios de aço em torno da
Favela do Vidigal, e iniciamos, mas não terminamos,
uma cerca igual na Rocinha".
O muro que o governo do estado quer construir agora, segundo
Conde, terá três metros de altura. Ao longo do
muro será construído um caminho para a passagem
de carros com dois metros e meio de largura, onde policiais
e moradores poderão circular tranqüilamente.
"Vamos agir imediatamente. A delimitação
dessas favelas vai favorecer seus moradores e a população,
de uma maneira geral, vai aplaudir", observou o vice-governador.
O projeto foi criticado pelo deputado Alessandro Molon (PT),
presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia
Legislativa. Ele considerou a idéia um atestado de
despreparo das autoridades para enfrentar a violência:
"Após um fim de semana de horror, a única
medida anunciada pelo estado é a construção
de muros. Isso é motivo de preocupação.
O Rio precisa de profissionalismo e seriedade para enfrentar
a violência", disse Molon.
O presidente da Associação de Moradores da
Rocinha, Willian de Oliveira, quer que a comunidade seja ouvida
antes de o estado começar a construir o muro, embora
pessoalmente nada tenha contra a idéia:
"Queremos conhecer o projeto. Em princípio, tudo
o que puder ser feito para melhorar a segurança da
comunidade é importante. Além disso, o muro
poderia evitar que a mata continue a ser invadida", comentou
Willian.
Para a professora da UFRJ Leonarda Musumeci, pesquisadora
do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade
Cândido Mendes, o muro não é um bom símbolo:
"Ele lembra separação, apartheid. Simboliza
ainda a falência do estado. Embora não conheça
o projeto de Conde, tenho dúvidas sobre a sua eficiência:
com as armas modernas usadas pelos bandidos, não é
difícil furar um muro de concreto", afirmou Leonarda.
Programa parecido
Em julho de 2001, a prefeitura iniciou um programa de
instalação de delimitadores (trilhos de ferro
interligados por cabos de aço) para impedir que as
favelas continuassem a se expandir sobre áreas verdes.
Até então, os delimitadores eram postos apenas
em áreas do Favela-Bairro. Batizadas de Eco-Limites
pelo então secretário municipal de Meio Ambiente,
Eduardo Paes, as primeiras cercas foram instaladas justamente
na Rocinha.
Segundo o secretário municipal de Meio Ambiente, Airton
Xerez, o Eco-Limites foi implantado em mais de 40 comunidades
e está funcionando:
"Instalamos cerca de 30 quilômetros de delimitadores
e na maioria das comunidades as cercas estão sendo
respeitadas. Este ano, instalaremos mais 11 quilômetros
em favelas de Jacarepaguá", contou Xerez.
Sobre a idéia de construir muros, o secretário
de Meio Ambiente é radicalmente contra:
"O governo parece que está adotando a política
de extermínio de Ariel Sharon e Hitler", provocou
Xerez, em referência ao primeiro-ministro de Israel
e ao ditador alemão.
O deputado federal Eduardo Paes (PSDB), que idealizou o programa
de Eco-Limites, também criticou a idéia de construção
de muros:
"Essa idéia me parece ridícula. Um muro
não impediria os bandidos de passar de um lado para
o outro por mais alto que fosse", afirmou Paes.
As informações são do jornal O Globo.
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