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limite da violência
12/04/2004
Governo anuncia construção de muro para cercar a Rocinha e mais três favelas

Para acabar com a guerra pelo controle do tráfico na Favela da Rocinha, que começou na madrugada da Sexta-Feira Santa e já deixou oito mortos, o governo do Estado do Rio de Janeiro anunciou, ontem, que vai cercar parte do morro com um muro de três metros de altura. Além da Rocinha, também serão parcialmente muradas as favelas do Vidigal; do Parque da Cidade, na Gávea; e da Chácara do Céu, no Leblon. O anúncio foi feito pelo vice-governador e secretário estadual de Meio Ambiente, Luiz Paulo Conde. Autor da idéia, Conde informou que telefonou de manhã para a governadora Rosinha Matheus e para o secretário de Segurança, Anthony Garotinho, e os dois aprovaram o projeto.

"É um plano emergencial para começar já. A governadora e o secretário aprovaram. Vamos evitar com isso que as favelas continuem a se expandir, destruindo uma Área de Proteção Ambiental (APA) e ainda que os traficantes usem a mata como caminho para suas incursões. É uma medida para proteger os moradores dessas comunidades", disse Conde, lembrando que começa a trabalhar hoje no projeto.

O plano do governo inclui ainda a ocupação social das quatro favelas — com equipes que farão atendimentos médico e odontológico, por exemplo — e uma ocupação policial para identificar e prender os principais traficantes de drogas.

"A violência da Rocinha não é um problema específico do Rio. É um problema que atinge outros estados. É uma questão nacional. E é preciso que o governo federal compreenda isso, repassando recursos e criando mecanismos que impeçam o bandido daqui de receber armas e drogas de fora", afirmou Conde.

O governo federal até agora não se manifestou sobre a guerra na Rocinha, que tem levado o terror à comunidade desde sexta-feira.

Para secretário, idéia é viável
O arquiteto Sérgio Magalhães, da Secretaria estadual de Desenvolvimento Urbano, disse que a idéia de Conde é perfeitamente viável. Segundo ele, é preciso “conter a expansão das favelas para a mata”:

"O controle tem que ser feito. Se não fizermos a contenção, nenhum esforço do governo de levar a essas comunidades serviços de infra-estrutura terá sucesso".

Sérgio Magalhães lembrou que em 1993, quando ainda trabalhava na prefeitura, ele coordenou um projeto de delimitação das favelas do Vidigal e da Rocinha:

"Fincamos estacas com fios de aço em torno da Favela do Vidigal, e iniciamos, mas não terminamos, uma cerca igual na Rocinha".

O muro que o governo do estado quer construir agora, segundo Conde, terá três metros de altura. Ao longo do muro será construído um caminho para a passagem de carros com dois metros e meio de largura, onde policiais e moradores poderão circular tranqüilamente.

"Vamos agir imediatamente. A delimitação dessas favelas vai favorecer seus moradores e a população, de uma maneira geral, vai aplaudir", observou o vice-governador.

O projeto foi criticado pelo deputado Alessandro Molon (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa. Ele considerou a idéia um atestado de despreparo das autoridades para enfrentar a violência:

"Após um fim de semana de horror, a única medida anunciada pelo estado é a construção de muros. Isso é motivo de preocupação. O Rio precisa de profissionalismo e seriedade para enfrentar a violência", disse Molon.

O presidente da Associação de Moradores da Rocinha, Willian de Oliveira, quer que a comunidade seja ouvida antes de o estado começar a construir o muro, embora pessoalmente nada tenha contra a idéia:

"Queremos conhecer o projeto. Em princípio, tudo o que puder ser feito para melhorar a segurança da comunidade é importante. Além disso, o muro poderia evitar que a mata continue a ser invadida", comentou Willian.

Para a professora da UFRJ Leonarda Musumeci, pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, o muro não é um bom símbolo:

"Ele lembra separação, apartheid. Simboliza ainda a falência do estado. Embora não conheça o projeto de Conde, tenho dúvidas sobre a sua eficiência: com as armas modernas usadas pelos bandidos, não é difícil furar um muro de concreto", afirmou Leonarda.

Programa parecido
Em julho de 2001, a prefeitura iniciou um programa de instalação de delimitadores (trilhos de ferro interligados por cabos de aço) para impedir que as favelas continuassem a se expandir sobre áreas verdes. Até então, os delimitadores eram postos apenas em áreas do Favela-Bairro. Batizadas de Eco-Limites pelo então secretário municipal de Meio Ambiente, Eduardo Paes, as primeiras cercas foram instaladas justamente na Rocinha.

Segundo o secretário municipal de Meio Ambiente, Airton Xerez, o Eco-Limites foi implantado em mais de 40 comunidades e está funcionando:

"Instalamos cerca de 30 quilômetros de delimitadores e na maioria das comunidades as cercas estão sendo respeitadas. Este ano, instalaremos mais 11 quilômetros em favelas de Jacarepaguá", contou Xerez.

Sobre a idéia de construir muros, o secretário de Meio Ambiente é radicalmente contra:

"O governo parece que está adotando a política de extermínio de Ariel Sharon e Hitler", provocou Xerez, em referência ao primeiro-ministro de Israel e ao ditador alemão.

O deputado federal Eduardo Paes (PSDB), que idealizou o programa de Eco-Limites, também criticou a idéia de construção de muros:

"Essa idéia me parece ridícula. Um muro não impediria os bandidos de passar de um lado para o outro por mais alto que fosse", afirmou Paes.


As informações são do jornal O Globo.

   
 
 
 

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