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Ainda que o projeto de lei da adoção
seja aprovado e os processos ganhem agilidade, uma grande
parcela de crianças abrigadas não será
beneficiada diretamente. É que a maioria dos casais
deseja crianças de até 2 anos. Uma pesquisa
feita pelo Cecif no ano passado mostrou que 71% dos casais
queriam crianças nessa faixa - 65% deles conseguiram.
Somente 15% adotaram crianças de 2 a 5 anos e 8%, de
5 a 7 anos - as chamadas adoções tardias.
A pesquisa também mostrou que
73% das famílias desejavam crianças brancas.
As crianças que não
são adotadas ficam nos abrigos até completarem
18 anos.
Somente na cidade de São Paulo,
5 mil crianças e jovens estão abrigados, a maioria
em instituições privadas e conveniadas com a
Prefeitura. Em todo o Estado - onde os cadastros só
agora estão sendo informatizados - cerca de 350 crianças
são adotadas por mês. Entre abril e junho, 36
delas foram para casais estrangeiros. A fila de pais gira
em torno de 2 mil a 3 mil, segundo o Tribunal de Justiça.
Segundo a diretora da instituição,
Gabriela Schreiner, pais que procuram um recém-nascido
esperam anos - especialmente se quiserem uma menina, loira
e saudável, características raras entre as crianças
abrigadas.
Pretendente a adoção,
Elaine (nome fictício) sabe disso como ninguém.
Ansiosa, ela está na fila de
Mairiporã, na Grande São Paulo, há mais
de um ano. "Quero um bebezinho. A gente que quer ser
mãe quer saber como é que é trocar fralda,
dar mamadeira, cuidar", diz Elaine, de 40 anos, que decidiu
partir para a adoção após descobrir,
há dois anos, que o marido tem um problema de infertilidade.
Para ajudar os pais a lidarem com
adoções, inclusive as tardias, já existem
no Brasil cerca de 100 grupos de apoio, 27 deles no Estado.
"Costumamos dizer às pessoas que se elas têm
um projeto de transmitir valores, história, amor a
um filho, esse filho não precisa ser pequeno, da mesma
raça ou um só", afirma Gabriela. A decisão,
diz ela, de adotar uma criança mais velha é
sempre mais desafiadora e exige reflexão e preparo.
Por isso mesmo, é muitas vezes mais compensadora.
Marcos de Moura e Souza
O Estado de S. Paulo
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