Cardeal
de Aparecida do Norte (SP), dom Aloísio Lorscheider
defendeu ontem, durante encontro com o presidente da República,
Luiz Inácio Lula da Silva, a redução
da maioridade penal de 18 para 16 anos, como forma de conter
a violência.
Para o religioso, que já ocupou
a presidência da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil por dois mandatos, é preciso haver ''mais
rigor'' na aplicação das leis para conter a
onda de violência no país. Este ponto de vista,
porém, está longe de ser um consenso na Igreja
Católica brasileira.
Enquanto dom Aloísio defende
a antecipação da maioridade, a medida soa inócua
para o bispo de São Félix do Araguaia (MT),
dom Pedro Casaldaglia, um dos ícones brasileiros na
luta pela redemocratização do país.
“Uma medida destas se parece
muito mais vingança institucionalizada do que justiça.
Visto desta forma trata-se, na realidade, de uma violência
contra adolescentes e, como se sabe, historicamente, violência
sempre gera mais violência”, afirmou dom Pedro.
Dom Aloísio, no entanto, acredita
que Estados como São Paulo e Rio de Janeiro estariam
à mercê dos ataques de criminosos a policiais
e do seqüestro e morte de menores. “Muitos adolescentes
sabem o que fazem”, disse.
Este comentário ganhou, de
pronto, um adepto na Igreja. Dom José Fernandes Veloso,
bispo emérito de Petrópolis, no interior do
Estado do Rio, também acredita que adolescentes de
16 anos já são responsáveis por seus
atos.
“Se é possível
presumir que um menor, de 16 anos, pode escolher o presidente
da República, também sabe muito bem o que está
fazendo ao matar uma pessoa”, afirmou o religioso, de
87 anos.
Dom Aloísio também acredita
que já é hora de reformular o Estatuto da Criança
e do Adolescente. “Depois da experiência de alguns
anos, é hora de rever”, afirmou o cardeal, que
defende uma ''profunda revisão'' no texto da lei, devido
ao surgimento de fatos novos, inexistentes na época
em que se legislou sobre o assunto. Para ele, é necessário
antecipar a responsabilidade penal para 16 anos e depois investir
mais em educação.
A redução da maioridade
penal, segundo dom Aloísio, pode não resolver
o problema da violência, mas servirá de apoio,
junto com penas mais rigorosas. A educação dos
jovens no país, porém, ''é o grande desafio
desta nação'', como afirmou dom Pedro Casaldaglia.
“Penas maiores não resolvem
o problema da violência. Quanto mais se aumenta a pena,
maiores são os níveis de beligerância
na sociedade”, ponderou dom Pedro Casaldáglia.
Mas o que dom Aloísio
disse ao presidente Lula foi o contrário. Depois de
observar que as leis do Brasil estão muito brandas
e que a violência em São Paulo é uma ''crueldade'',
o cardeal ressaltou que o governo do Estado tem grande responsabilidade
em relação à segurança pública.
“O governo ou a própria sociedade podem tomar
uma atitude. Está na hora de fortificar a segurança
nacional”, acrescentou.
As informações são
do Jornal do Brasil.
|