Derrame,
aids, homicídio e câncer de mama são,
nessa ordem, as principais causas de morte de brasileiras
jovens. Pela primeira vez, um levantamento feito em todas
as capitais do Brasil analisou do que morrem as
mulheres que têm entre 10 e 49 anos.
A pesquisa foi coordenada pela Faculdade
de Saúde Pública da Universidade de São
Paulo (FSP-USP), em parceria com o Ministério da Saúde,
a Organização Mundial da Saúde e o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq).
Os pesquisadores partiram de 3.265
atestados de óbito registrados em todas as capitais
do País e no Distrito Federal. Em seguida, eles entrevistaram
os parentes da vítima e analisaram prontuários
para reconstruir a história médica de cada mulher.
A professora Maria Helena Prado de Mello Jorge, da FSP-USP,
explica que a faixa etária escolhida para o levantamento
abrange a idade fértil feminina.
Alguns achados, como a aids aparecer
em segundo lugar no ranking, chamaram a atenção
dos pesquisadores. “Apesar de o programa de aids brasileiro
ser um dos melhores do mundo, a mortalidade por essa doença
ainda é alta na mulher jovem”, alerta Ruy Laurenti,
da FSP-USP.
Todos os brasileiros com aids têm
acesso a tratamento com drogas anti-retrovirais. A diretora
do serviço de vigilância do Programa Estadual
de DST/Aids de São Paulo, Naila Janilde Santos, explica
que os medicamentos prolongam a vida do paciente, mas não
curam a doença. “As pessoas vivem mais tempo
com o HIV, mas ainda morrem de aids.”
Outras doenças que surpreenderam
os pesquisadores são derrames, pressão alta
e diabete. Nesses três casos, há que se considerar
a predisposição genética, mas hábitos
de vida têm papel fundamental para o desenvolvimento
da doença.
Prevenção
Não é à toa que a relações-públicas
Suely Detogni Abreu, de 46 anos, tem cuidados redobrados com
a saúde. “Venho de uma família com histórico
de problemas cardíacos. Minha mãe morreu de
enfarte.” Para compensar o risco hereditário,
Suely capricha nos hábitos saudáveis: caminha
cinco vezes por semana
e controla a alimentação.
Amiga de Suely, a secretária
Marina Palma, de 45 anos, não tem a carga hereditária
das doenças cardiovasculares. Mesmo assim, não
abre mão de hábitos saudáveis. A atividade
física tem lugar garantido em sua agenda. Segundas,
quartas e sextas são dias reservados para 4 quilômetros
de caminhada. As terças e quintas começam com
aula de alongamento.
“Sem falar que tanto a Suely
quanto eu não falhamos nas visitas anuais ao ginecologista
e no auto-exame das mamas”, diz Marina. São estratégias
fundamentais para a detecção precoce de câncer
de colo de útero e de mama.
Esses dois tipos de câncer estão
entre as dez doenças que mais matam as mulheres jovens
no País. Enquanto o de mama equivale a 26,9% das mortes
por câncer no Sudeste, o de colo de útero é
responsável por 33,5% dos óbitos do Norte. “Áreas
menos desenvolvidas têm maior ocorrência de mortes
por câncer de colo de útero, que podem ser evitadas
com exame Papanicolau uma vez por ano”, explica Sabina
Gotlieb, professora da FSPUSP.
Ou seja, as mulheres dessas áreas não estão
fazendo o teste com a freqüência que deveriam.
O trabalho não deixou de investigar a mortalidade materna.
Entram nesse grupo mortes que aconteceram em mulheres grávidas,
durante o parto ou em até um ano depois, desde que
a causa do óbito esteja relacionada à gestação.
Dos 3.265 óbitos analisados, 115 eram por causas maternas.
O que chamou a atenção
dos pesquisadores foi o fato de 56,5% dos casos terem causas
que poderiam ser prevenidas com pré-natal adequado.
Luciana Miranda,
Do Estado de S.Paulo.
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