O Conselho Federal de Psicologia proíbe, a partir de hoje, uma série
de avaliações psicológicas empregadas
em processos de seleção para empregos, provas
para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação,
encaminhamento de presos, concessões de porte de arma
e discussões sobre a guarda de crianças.
Avaliação feita pelo órgão reprovou
52,4% dos 103 testes analisados. Outros 15 ainda estão
sendo verificados. A lista dos considerados inadequados está
no site www.pol.org.br.
"O problema principal [dos testes] foi a ausência
de pesquisas com população brasileira. Em outros,
as pesquisas são muito antigas, da década de
40. Há ainda alguns que não têm pesquisas
de validade, que mostrem que as avaliações são
confiáveis", afirma Ricardo Primi, que fez parte
da comissão de avaliação. O levantamento
poderá ser atualizado se surgirem novos estudos.
Os testes são definidos como "instrumentos de
avaliação ou mensuração de características
psicológicas" e são de uso privado do psicólogo,
segundo a lei 4.119, de 1962. O Instituto Brasileiro de Avaliações
Psicológicas estima que existam 150 tipos de teste
no país -a avaliação do conselho, portanto,
abrangeu a maioria.
Provas que usam desenhos para avaliações de
grande número de candidatos -como algumas do exame
para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação-
foram consideradas inadequadas. Exemplo: o teste de atenção,
empregado em alguns Estados, em que o interessado em obter
a carteira tem de observar figuras e relatar detalhes dos
desenhos.
Algumas das avaliações usadas em testes vocacionais,
que verificam interesses e aptidões, também
estão vetadas.
Todos os tipos de teste psicológico que não
foram enviados ao conselho para análise também
estão proibidos a partir de hoje. Isso vale, por exemplo,
para os testes de grafologia e aqueles criados por psicólogos
de empresas. "Alguns são vendidos como revolucionários",
diz Primi. A decisão do conselho poderá municiar
ações judiciais de quem se sentiu prejudicado
por testes.
A discussão sobre o tema começou há
um ano e meio no conselho. Hoje, 80% das reclamações
feitas ao órgão envolvem problemas com testes
ou laudos psicológicos -como a de candidatos de concursos
públicos inconformados com os resultados. Em março
deste ano, o órgão publicou resolução
em que convocava editoras de testes e psicólogos a
encaminhar as avaliações para análise.
FABIANE LEITE
Da Folha de S.Paulo
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