Não há um "gatilho" para que a Sabesp (companhia de
saneamento de SP) decrete racionamento nas áreas abastecidas
pelo sistema Cantareira. Mas o fato de ele ter atingido ontem
a marca histórica de 5% da capacidade é "quase
um sinal vermelho", diz o gerente da Divisão de
Hidrologia e Proteção de Recursos Hídricos
da empresa, Hélio Luiz Castro.
Há um mês, a empresa afirmava que captar água
além dos 5%, apesar de possível, não
era desejável, pois significaria esvaziar demais o
Cantareira e poderia implicar racionar água em 2004,
para garantir que ele enfrentasse a estiagem de abril a setembro.
"Se em novembro não chover, fica mais difícil
recuperar, mas fazer racionamento no Cantareira significa
deixar 9 milhões de pessoas na capital e Grande São
Paulo sem água. São duas cidades de Salvador.
Imagine fazer manobras [para abrir e fechar válvulas]
todos os dias", diz Castro.
Ele afirma que "não se faz racionamento por precaução"
no período chuvoso. "Imagine se chove um monte
em janeiro, fevereiro. Isso na maioria das vezes não
aconteceu, mas é uma possibilidade. Se [o racionamento]
é uma coisa que se faz agora ou no ano que vem, então
arriscamos agora e, se [o sistema] não se recuperar,
fazemos uma coisa mais amena no ano que vem", pondera.
À questão do desgaste político que seria
cortar água num ano eleitoral, o presidente da Sabesp,
Dalmo Nogueira, responde que se orienta por critérios
técnicos. "Se precisarmos cortar e não
cortarmos, prejudicaremos o próprio governo."
Castro diz que a Sabesp optou por correr um risco calculado
com o Cantareira, apostando tanto na chuva como em ações
que poupem o sistema."Estamos tranquilos", afirma,
apesar de especialistas já terem manifestado preocupação
com o quadro atual.
Desde junho, a produção de água do Cantareira
por segundo, para a Grande SP, foi reduzida em 2.000 l porque
parte da área do sistema pôde ser servida pelas
represas Alto Tietê, Rio Grande e Guarapiranga. É
possível ainda liberar menos água para a bacia
do Piracicaba (região de Campinas) quando chove na
região. O Cantareira manda de 3.000 l/s a 5.000 l/s
para o interior, mas, como também serve para controlar
cheias, se chove na bacia do Piracicaba, a remessa não
é necessária e pode até causar ou agravar
enchentes.
O volume liberado é determinado pela Câmara
Técnica de Monitoramento Hidrológico do Comitê
das Bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí, do qual
participam a Sabesp, o governo estadual, as prefeituras e
representantes dos setores industrial e agrícola.
Segundo Castro, a Sabesp tem três cenários:
um pessimista, um otimista e um intermediário -e mais
provável-, que prevê que o Cantareira chegará
em abril de 2004 com cerca de 40% de seu volume total. Nesse
caso, não seria necessário o racionamento.
MARIANA VIVEIROS
Da Folha de S. Paulo
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