Num país
de dimensões continentais, os índices de leitura
são baixos. O brasileiro não chega a ler dois
livros num ano - a média é de 1,8, segundo a
Câmara Brasileira do Livro - CBL. A pesquisa, divulgada
no mês passado, aponta Brasília como a capital
também da leitura no país. Na França,
sete obras são devoradas a cada ano.
Para piorar a situação, apenas 30% da população
adulta alfabetizada - 26 milhões de brasileiros - leram
pelo menos um livro entre junho e agosto deste ano, segundo
dados da CBL. Diante desse quadro nada animador, há
o que comemorar no Dia Nacional do Livro, no próximo
dia 29?
Para o livro nacional, a situação é
melhor que para os "estrangeiros". Exemplares tupiniquins
dominam 95% das prateleiras do país. A situação
é explicável, em grande parte, por conta do
mercado de livros didáticos, que responde, sozinho,
por mais da metade da circulação de títulos.
Livros de literatura - os chamados livros gerais - e obras
profissionais somam 22%. Na 22ª Feira do Livro de Brasília,
que aconteceu entre 22 e 31 do agosto no Pátio Brasil,
a venda de livros de literatura brasileira atingiu 13,9% do
total - ficando em segundo lugar.
Segundo Íris Borges, vice-presidente da Câmara
do Livro do DF, o grande volume de compra de livros pelo governo
dá a impressão de que se lê mais por obrigação
que por gosto. Para ela, do total de leitores brasileiros,
"a maioria lê por prazer". "Grande parte
dos livros comprados é de literatura", continua.
Ainda assim, vai-se muito pouco às livrarias, já
que o índice de compra de livro por cada adulto alfabetizado
no país é de apenas 0,66.
O presidente da Associação Nacional de Livrarias,
Jair Canizela, lamenta a pouca ida do brasileiro às
livrarias. "É péssimo. Não só
comercialmente, mas intelectualmente, a gente gostaria (que
a freqüência) fosse maior".
Foi com a intenção de levar mais gente à
livraria que Maria Luiza Martins abriu, há cinco anos,
o Café com Letras. "A opção por
este tipo de projeto é para atrair mais a clientela.
Hoje, se você não diversificar, não dá
certo". Misto de livraria, café e espaço
cultural, o local é conhecido na cidade pelo horário
diferenciado de funcionamento - é possível comprar
livros até às 2h da madrugada.
Mesmo com opções variadas - oficinas, encontros
de poesia, lançamentos de livros e shows, entre outros
-, Maria Luiza também sentiu os efeitos da crise. "Esse
está sendo o pior ano para o comércio. As vendas
caíram em torno de 30, 40%". Mesmo desanimando
às vezes, a livreira não abre mão do
projeto, que a fez largar o emprego de 25 anos num banco.
"As pessoas precisam primeiro comer. Cultura vai ficando
lá para o final. A gente precisa inventar coisas para
não desistir".
Igo Estrela
Do jornal Correio Braziliense
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