Ao suspender por tempo indeterminado
o racionamento de água nas cidades atendidas pelo sistema
Alto Cotia, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo) apenas está adiando
o inevitável.
Segundo especialistas, não
há razões técnicas para a decisão,
anunciada anteontem à noite. E, se ela foi tomada por
motivos sociais ou políticos, pode, até o fim
do verão, se voltar contra seus autores.
Os especialistas também afirmam
estar preocupados com o sistema Cantareira. A opção
do governo por só avaliar em novembro se fará
cortes no abastecimento das 9 milhões de pessoas atendidas
pelo sistema pode colocá-las em racionamento por um
longo período.
O esvaziamento progressivo das represas
pode causar, ainda, problemas na captação e
no tratamento da água, já que, quando seu nível
está muito baixo, além de ser tecnicamente mais
difícil bombeá-la, ela vem mais suja.
"Não houve mudança
significativa no quadro de reservação que justifique
a suspensão do racionamento. Foi uma decisão
política, que depende mais da natureza do que da gestão
do sistema", sustenta Helifax Pinto de Souza, presidente
do Sintaema (sindicato dos funcionários da Sabesp).
"A suspensão mostra insegurança
e adia uma crise inevitável. Para quem ia ficar sem
água, é bom, mas o desgaste, quando o racionamento
tiver de voltar a ser anunciado será grande",
afirma Marussia Whately, especialista em recursos hídricos
do Instituto Socioambiental.
Para ela, o não-racionamento
de água na área do Cantareira é ainda
mais irresponsável. Isso porque o sistema é
bianual, ou seja, demora dois anos para esvaziar e dois para
encher (enquanto os demais sistemas levam só um ano).
Este seria o primeiro ano de enchimento, mas o nível
atual do sistema é menor do que em 2002, quando ele
ainda esvaziava.
"A Sabesp está arriscando muito porque não
consegue se adiantar aos problemas", diz Aldo Rebouças,
pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP.
As informações são
da Folha de S. Paulo.
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