A estratégia
de informar sobre os riscos do álcool foi o bastante
para que um grupo de jovens diminuísse de forma significativa
o número de dias em que bebem, os drinques que tomam
por dia e a quantidade de vezes que exageram nas doses.
A iniciativa, no entanto, não
se mostrou capaz de reduzir o número de doses que tomam
quando decidem exagerar. Nessas ocasiões, eles continuam
sujeitos a consequências graves, como os acidentes com
automóveis.
Esse é o resumo de um ano de
pesquisa com 326 alunos de vários campi da Unesp (Universidade
Estadual Paulista) que fazem uso excessivo de bebida.
A intenção era testar
um método aplicado com bons resultados pelo professor
Alan Marlatt, da Universidade de Washington (Seatle, EUA),
entre estudantes que consumiam álcool de maneira nociva.
O princípio é o da redução de
danos: já que os jovens continuarão bebendo,
fazer com que provoquem menos danos a eles mesmos e aos outros.
O método consiste em triar
os alunos que, embora não dependentes, consumam álcool
algumas vezes por semana de forma a se embebedarem perigosamente.
Eles passam por duas entrevistas. Na primeira, é questionado
sobre seu histórico familiar, seus projetos e a importância
do beber em sua vida. Na outra, é informado sobre os
efeitos do álcool à saúde.
Na pesquisa, os estudantes triados
foram divididos em três grupos. A reportagem compara
apenas aqueles submetidos à iniciativa com um grupo
de controle, que não recebeu informação
alguma. O grupo que passou pela intervenção
reduziu, por exemplo, o número de drinques que bebia
na semana (de 11,23 para 7,30) e o número de vezes
que exagerou nos últimos três meses, que caiu
de 3,09 para 1,13.
O número de drinques que bebiam
nesses dias, no entanto, não mudou muito: caiu de 7,46
para 6,66. O grupo que não recebeu informação,
tomou em média 7,71 drinques nesses dias de "porre".
O número de acidentes envolvendo
estudantes alcoolizados também caiu, mas "permanece
muito alto", diz Florence Kerr-Correa, professora do
Departamento de Neurologia e Psiquiatria da Faculdade de Medicina
de Botucatu e uma das coordenadoras da pesquisa.
Entre os rapazes que foram submetidos
à "orientação breve", o número
dos que sofreram acidentes alcoolizados caiu de 12,24 por
100 para 8,78 por 100, no período de um ano. Entre
as moças, a queda foi de 10,99 para 3,33. Na média,
a redução foi de 11,76 para 6,7.
O acompanhamento deve seguir por mais
um ano, mas Florence Kerr reconhece que, além de informação,
é preciso maior rigor na fiscalização
e no controle dos locais de venda. As festas de estudantes
são especialmente perigosas. "É nas chamadas
bocas livres, onde a bebida é de graça, que
eles bebem de forma perigosa."
Nos EUA, por exemplo, onde toda a
polícia é munida de bafômetro e as punições
são pesadas, o número de acidentes é
menor.
"É preciso agir sobre
o uso agudo, abusivo, associado a abuso sexual, sexo inseguro",
diz Ilana Pinsky, coordenadora do Ambulatório de Adolescentes
da Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) da
Unifesp. "A pessoa pode falar: não bebo todo o
dia. Mas se, quando bebe, são oito doses, pode ser
problemático."
Kerr é favorável à
participação da indústria de bebidas
nas campanhas de informação e orientação
dos jovens. Pinsky considera as propagandas da indústria
positivas. Mas aponta que os fabricantes preferem falar somente
do beber e dirigir porque isso não ameaça o
consumo. Para ela, é preciso refletir sobre o tom excessivamente
festivo dos comerciais.
AURELIANO BIANCARELLI
Da Folha de S. Paulo
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