A secretária-executiva do
Bolsa-Família, Ana Fonseca, usou hoje a unificação
dos programas sociais do governo para rebater a declaração
do empresário Antonio Ermírio de Moraes, presidente
do Conselho de Administração do Grupo Votorantim,
que chamou ontem de "esmola" o Fome Zero, carro-chefe
do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Hoje, logo após participar de debate na TV Câmara,
ela disse que a crítica não procede porque o
programa representa um "direito à cidadania"
e vai ajudar a gerar empregos no país.
"O fato de dizer que é uma esmola está
centrado em uma idéia de cidadania, de que não
tem direito à renda se não tiver contribuído.
Esse programa não é uma esmola, é um
direito de cidadania. As pessoas têm direito e é
um direito legal", afirmou.
Além de chamar o Fome Zero de "esmola",
o empresário defendeu a substituição
do programa por uma espécie de "Desemprego Zero".
"Acho que o maior problema do Brasil é o desemprego.
Não dá para ter desemprego zero, mas é
preciso enfrentar o desemprego. Ninguém quer viver
de esmola."
Para reforçar a argumentação, ela citou
o caso do programa Bolsa-Escola, que condicionava a transferência
de renda à freqüência escolar. "Quando
no programa Bolsa-Escola se transferia recursos associados
à obrigação de manter as crianças
na escola, é ser realista. É aproximar a lei
da possibilidade do exercício daquele direito. É
isso o que acontece. Não é uma esmola. Todo
cidadão tem direitos e deveres."
Empregos
Sobre a afirmação do empresário de que
o governo deveria incentivar mais a geração
de empregos do que criar programas de transferência
de renda, Ana Fonseca declarou que, na medida em que as famílias
carentes receberem os recursos do Bolsa-Família, haverá
um incremento no comércio e outros setores em suas
cidades.
"E não é também uma esmola porque,
em termos comparativos o valor do benefício quase sempre
triplica. Nós saímos de um valor médio
de R$ 23 para um valor médio de R$ 76 a R$ 77. Esse
recurso ao ser movimentado nos municípios provoca um
fato extraordinário nas economias locais, porque movimenta
mais o comércio, porque ele tem efeitos multiplicadores
favoráveis à geração de ocupação
e renda", disse ela.
Sem resposta
A secretária não quis responder às críticas
do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), à
política social, em entrevista publicada na edição
de ontem do jornal espanhol "El País".
Afirmando que "falta imaginação",
FHC disse que "não existe coordenação
administrativa" na área social do governo. "Eu
pensava que ele [Lula] tinha um projeto para o país
diferente do meu. Vejo que não."
Ana Fonseca afirmou que a crítica de FHC foi muito
abrangente e não foi feita diretamente ao Bolsa-Família.
"Traduzindo a declaração do ex-presidente
ele criticou a política social, o que é muita
coisa. Em nenhum momento ele citou o programa Bolsa Família."
RICARDO MIGNONE
D a Folha Online, sucursal de Brasília
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