O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva aproveitou seu discurso na abertura da 1ª
Conferência Nacional das Cidades para criticar os supostos
interesses políticos de governadores e prefeitos que
resistem à política de unificação
dos programas sociais.
"Não é possível que se utilize a
miséria das pessoas para dizer: "Essa aqui é
a minha marca". Não precisa de marca", disse
Lula. Ele afirmou que a questão da marca era uma preocupação
durante a discussão do programa Bolsa-Família,
que resultou da unificação de quatro programas
federais de transferência de renda.
O presidente afirmou que, diante disso, sugeriu aos governadores
que os cartões que serão utilizados para o saque
do dinheiro contenham as bandeiras do Brasil, do Estado e
do município. "Pronto. Não precisa colocar
um nome diferente, não precisa colocar a cara do presidente,
do governador ou do prefeito, o nosso prazer é saber
que fizemos alguma coisa que possa ter melhorado a vida de
um ser humano neste país."
O presidente lançou no último dia 20 a unificação
de programas sociais. Nenhum governador ou prefeito aderiu
formalmente à unificação ainda. "Nós
levamos quase sete meses discutindo com governos estaduais
e municipais, principalmente das capitais, uma unificação
das políticas sociais. Não é uma coisa
fácil."
Unificação habitacional
O presidente disse que sua intenção é
estender a unificação de programas federais,
estaduais e municipais também para a área habitacional,
de forma que um complemente o outro.
Discursando para cerca de 3.000 delegados eleitos em conferências
municipais sobre cidades, além de vereadores, prefeitos
e deputados de todos os partidos, no salão do Minas
Brasília Tênis Clube, em Brasília, o presidente
elencou diversas ações do seu governo na área
de desenvolvimento urbano.
Depois de lembrar que 7 milhões de pessoas não
têm onde morar e outros milhões moram em condições
subumanas e/ou em áreas de risco e preservação
ambiental, informou que prédios do governo federal
poderão ser cedidos para sem-teto morarem. Uma comissão
deve fazer o levantamento dos imóveis.
Críticas a FHC
Em três ocasiões Lula referiu-se com ironia ou
críticas aos governos de Fernando Henrique Cardoso.
"Se nós continuarmos a fazer do mesmo jeito que
vinha sendo feito, eu pergunto a vocês: "Para quê?"
Ele disse que pode não fazer tudo que prometeu, "mas
o que fizer tem que ser bem feito".
Também citou uma promessa que não cumpriu.
"Em fevereiro, em encontro com mais de 2.000 prefeitos,
anunciei que iríamos liberar R$ 1,4 bi para saneamento.
Depois descobri que esse era um dinheiro que habitualmente
se anunciava e não se liberava".
O presidente contou que chamou o presidente da Caixa Econômica
Federal, Jorge Mattoso e disse que "se alguém,
em algum momento, anunciou dinheiro e não liberou,
isso tem que mudar". Lula afirmou que o dinheiro será
liberado até o final do ano.
Por fim, ao lembrar que, na condição de deputado,
foi co-autor do projeto de lei que cria o Fundo Nacional de
Moradia Popular, ironizou FHC. "Vamos ter que votar esse
projeto, que tramita há 12 anos, porque eu não
quero esquecer tudo que fiz e escrevi no passado", disse,
em referência à frase de mesmo sentido proferida
por FHC às vésperas de se tornar candidato às
eleições de 1994.
WILSON SILVEIRA
Da Folha de S. Paulo, sucursal de Brasília
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