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Para o
economista Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda
do Estado de São Paulo e atual diretor da Escola de
Economia de São Paulo, da Fundação Getúlio
Vargas (FGV), a redução dos juros precisa ser
muito rápida, na base da “canetada”. “Se
vale a canetada para subir, por que não vale para baixar?”,
pergunta. “Essa coisa de baixar juros devagarinho só
vale para país desenvolvido.” Na opinião
de Nakano, a redução gradual não funciona
no Brasil, porque uma crise no exterior pode forçar
o governo a interromper a trajetória de queda da Selic.
Na opinião de Luiz Carlos Bresser
Pereira, ex-ministro da Fazenda, é possível
desvalorizar o câmbio para um patamar de R$ 3,50 por
dólar e reduzir os juros reais (valor nominal da Selic,
descontada a inflação) para algo em torno de
3% ao ano. “Do ponto de vista de política econômica,
é possível derrubar a taxa de juros e o câmbio
simultaneamente, num curto período de tempo”,
diz Bresser, com a ressalva: “Desde que se reduzam os
gastos do governo”.
Bresser prevê que, caso o Brasil
mantenha os juros altos e o câmbio valorizado, o País
irá enfrentar outra crise de balanço de pagamentos
entre dois anos e meio e três anos. “Duvido que
a conta corrente vá ter um bom desempenho no ano que
vem”, disse o economista, que relançou ontem
seu livro “Desenvolvimento e Crise no Brasil”.
Com um eventual reaquecimento da economia, mantendo-se o câmbio
valorizado, as importações voltarão a
crescer e as exportação vão cair, projeta
Bresser.
Na avaliação do ex-ministro,
um crescimento da ordem de 3,5% em 2004 será medíocre.
“Este governo estará condenado à estagnação
econômica se não promover mudança na política
monetária”, afirmou.
A implementação do novo
receituário, acrescentou, terá de acontecer
num prazo de seis meses, com início, no máximo,
em março do próximo ano. “Esse é
o prazo do ciclo político. Se o governo adota essas
medidas, por exemplo, em dezembro de 2004, e precisa apertar
o cinto, não sai do ciclo e retoma o crescimento até
a eleição presidencial”, disse.
“A grande diferença entre
Ásia e América Latina é que os países
asiáticos administram bem a taxa de câmbio”,
prosseguiu. “Não há como sobreviver sem
um câmbio competitivo.”
Simultaneamente às medidas
macroeconômicas, eles sugerem a redução
dos gastos correntes do governo, especialmente no custeio
da máquina pública. “Se o presidente da
República ou algum governador decidir, é possível
cortar o gasto corrente porque há muita ineficiência
e desperdício”, opinou Nakano.
Para ele, ao ajustar essas medidas,
o governo abre espaço para a eliminação
do déficit nominal e, dessa forma, direciona seus gastos
a investimentos públicos voltados para o desenvolvimento
econômico.
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
JANDER RAMON
De O Estado de S. Paulo
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