O governo
federal já admite propor em projeto de lei que a propaganda
de cerveja seja liberada após as 21h, e não
mais após as 22h, como previa a proposta original.
"As duas possibilidades estão colocadas. A das
22h seria um ponto de negociação. Mas o grupo
considera a hipótese das 21h razoável",
disse ontem o coordenador do grupo interministerial de política
para o álcool, Pedro Gabriel Delgado.
Na semana passada, o coordenador apresentou
outro ponto de flexibilização. Disse que o projeto
permitiria chamadas de patrocínio de cervejas e vinhos
das 6h às 22h. Antes, o governo pretendia proibir qualquer
tipo de publicidade no período. Hoje não há
restrições legais à propaganda de bebidas
de baixo teor alcoólico (cerveja e vinho).
Apesar de ser de apenas uma hora,
a mudança das 22h para as 21h faz toda a diferença
para as emissoras de TV. Somada à eventual liberação
da exibição de vinhetas, deve causar pouco impacto
nas contas das TVs, que temiam perder verba de cerca de R$
600 milhões por ano.
Ao permitir comerciais às 21h,
o governo irá liberar a propaganda de bebidas no "Jornal
Nacional" e na novela das oito da Globo, por exemplo,
no horário de maior audiência. E assim não
irá poupar crianças dessa publicidade. A novela
das oito da Globo, por exemplo, é o programa mais visto
por crianças e adolescentes. Cerca de 25% de seu público
tem entre 4 e 17 anos.
Delgado, do Ministério da Saúde,
reconhece estar preocupado com a dificuldade das emissoras
de TV em substituir cervejarias no patrocínio a eventos
como futebol e Carnaval e diz que "uma regra de transição
será normal".
"É cair de novo no jogo
da indústria", afirma Ana Cecília Petta
Roselli Marques, presidente da Abead (Associação
Brasileira de Estudos de Álcool e Drogas).
"Álcool é álcool. O que acontece
é que a indústria criou uma imagem de que a
cerveja faz menos mal, o que não é verdade.
O que importa é a quantidade ingerida", disse
ainda Marques.
A lei atual, no quesito propaganda,
já beneficia as bebidas fermentadas em relação
às destilados. Estas últimas (vodca, uísque),
de maior grau alcoólico, só podem ser anunciadas
após 21h.
"Somos contrários formalmente
a qualquer restrição de horário",
diz Marcos Mesquita, superintendente do Sindcerv (Sindicato
Nacional da Cerveja).
DANIEL CASTRO
FABIANE LEITE
Da Folha de S. Paulo
|