A morte
de dois estudantes nas últimas semanas trouxe de volta
a discussão sobre o consumo de álcool por jovens.
Apesar de ainda não se saber se os dois beberam horas
antes de morrer, tanto Gutemberg Clarindo Oliveira, de 16
anos, cujo corpo foi encontrado ontem no Lago do Ibirapuera,
como Ângelo Luiz Coradi Comineli, de 20 anos, achado
no Rio Tietê na quarta-feira, tinham acabado de participar
de festas com grande quantidade de álcool disponível.
Especialistas têm uma certeza. O consumo de bebidas
alcoólicas cresce entre os adolescentes. "O uso
de álcool entre os jovens brasileiros tem aumentado",
adverte a psicóloga Ilana Pinsky, coordenadora do ambulatório
de adolescentes da Unidade de Pesquisa em Álcool e
Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Segundo ela, os poucos estudos que existem sobre o tema registram
essa tendência.
Os pesquisadores também identificaram outro fenômeno.
"Aparentemente, a idade do início do uso de álcool
tem caído", diz Ilana. Entre as causas do problema,
a psicóloga destaca a falta de campanhas de prevenção,
o preço muito baixo e a facilidade que qualquer um
tem de comprar bebidas - mesmo que a venda para menores seja
proibida. "Existe um clima no Brasil de extrema tolerância
com o álcool e pouca informação."
Na sua opinião, a indústria de bebidas alcoólicas
contribui para manter esse cenário ao desenvolver produtos
destinados aos jovens e, ainda, ao apostar em campanhas publicitárias
voltadas para esse público. Para ela, aposta-se na
união entre alegria, festividade e juventude e se esquece
do outro lado.
"Com o tabaco, isso tem mudado um pouco", compara
Ilana. Embora algumas empresas tenham passado a veicular propagandas
com a frase "Beba com moderação",
a psicóloga classifica a iniciativa como tímida.
"Tem de ter uma lupa para ler a maioria dos anúncios."
Pressão
As campanhas publicitárias também são
vistas como um problema pela professora do Departamento de
Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp) Maria Lúcia Formigoni, que coordena a Unidade
de Dependência de Drogas. "As propagandas de cerveja
têm se dirigido ao público jovem, ainda que digam
que não." Segundo ela, existe uma pressão
muito forte para estimular os adolescentes a beber.
Como exemplo do aumento do consumo, Maria Lúcia cita
uma pesquisa feita com estudantes de Barueri, na Grande São
Paulo. O estudo mostrou que a maioria dos alunos com idade
entre 10 e 13 anos já havia experimentado bebida. Dos
adolescentes consultados, 23% tinham consumido o produto pelo
menos três vezes no mês anterior à entrevista.
MAURÍCIO MORAES
De O Estado de S. Paulo
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