Sempre associada ao lazer e à
diversão, a bicicleta se transformou em meio de transporte
para milhares de moradores da periferia de São Paulo
e de cidades da região metropolitana. Eles trocaram
o peso da passagem de ônibus no orçamento
doméstico pela força nas pernas para pedalar
por ruas nem sempre seguras. Geralmente, o destino é
uma estação de trem.
O fenômeno é visível ao longo das linhas
da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que
ligam diferentes regiões da Grande São Paulo
e cruzam a Capital. Usuários que precisavam tomar um
ônibus para chegar a uma das estações
de trem (cujo sistema é integrado ao metrô, a
preço único de R$ 1,90 o bilhete) aproveitam
para economizar um pouco mais recorrendo à bicicleta
no lugar do coletivo.
A CPTM incentiva essa atitude. Em Mauá, região
do ABC, há três anos funciona um estacionamento
de bicicletas, ou bicicletário, num terreno da empresa
ao lado da estação. Tem capacidade para 800
bicicletas, funciona 24 horas e vive lotado. O local admite
mensalistas, ao custo de R$ 7.
Em Barueri, na Grande São Paulo, foi a prefeitura
que montou um estacionamento para 150 bicicletas ao lado da
estação da CPTM.
Em Itapevi, a Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento
Urbano da cidade busca financiamento para construir uma ciclovia
ligando o conjunto habitacional da Cohab à estação
da CPTM e quer complementar a obra com um bicicletário
na estação.
Por enquanto, quem pedala até lá tem de improvisar
para estacionar a bici-
cleta. Todos os dias, cerca de 500 delas são amarradas
ou acorrentadas a postes, grades e até ao guard-rail
da Avenida Peres Nacif Chalupe por passageiros que tomam o
trem com destino ao trabalho. No final do dia, fazem o caminho
inverso e
pedalam até suas casas. O mesmo acontece em cidades
como Itaquaquecetuba e Suzano.
"A bicicleta só não é mais usada
porque os ciclistas não têm onde guardá-las
e em razão da agressividade do trânsito",
afirma Jorge Ubirajara Proença, secretário-executivo
da Abraciclo (a associação dos fabricantes de
bicicleta). Segundo ele, pesquisas feitas há dez anos
já mostravam que muitas pessoas fazem a pé ou
de bicicleta o percurso até as estações
de acesso à malha ferroviária e metroviária.
Potencial
Segundo o Instituto de Desenvolvimento e Informação
em Transporte (Itrans), 181 mil dos 4,4 milhões deslocamentos
diários da população de baixa renda (5
milhões de pessoas que ganham até três
salários mínimos) na Grande São Paulo
são feitos de bicicleta. Mas o dado mais expressivo
é o potencial deste meio como alternativa de transporte:
um terço das famílias de baixa renda possui
uma bicicleta.
"As pessoas estão andando mais a pé ou
de bicicleta por causa da tarifa, que aumentou acima da inflação,
enquanto a renda familiar caiu. Outro fator são os
congestionamentos. Em alguns trajetos, ir a pé ou de
bicicleta dá no mesmo que ir
de ônibus", diz Maurício Cadaval, presidente
do Instituto de Desenvolvimento e Informação
em Transporte.
EVERALDO GOUVEIA
Do Diário de S. Paulo
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