Quinze cidades já cederam
terrenos para o Governo do estado construir penitenciárias.
Elas acham que as cadeias trazem progresso para a região
Para a maioria das cidades, ter de abrigar uma penitenciária
é sinônimo de insegurança e dor de cabeça
para os moradores e para as prefeituras. No entanto, 15 municípios
paulistas apostam que receber uma unidade prisional pode trazer
prosperidade, com geração de empregos e o aquecimento
da economia local. Por isso, procuraram o Governo estadual
interessados em ceder terrenos para abrigar penitenciárias,
centros de ressocialização e de detenção
provisória.
Segundo a Secretaria Estadual de Administração
Penitenciária, que não divulga a lista completa,
entre os candidatos estão os municípios de Assis,
Avanhandava, Lavínia, Mirandópolis, Lucélia
e Moji Guaçu, todos no Interior de São Paulo.
As cinco primeiras já têm cadeias e garantem
que há benefícios em sediá-las.
“O orçamento das penitenciárias é
maior que o orçamento da nossa prefeitura”, disse
o prefeito de Mirandópolis, Jorge de Faria Maluly (PFL).
A cidade, a 605 quilômetros de São Paulo, tem
dois presídios: um de regime fechado e outro fechado
e semi-aberto.
“Nós queremos mais um e já doamos 26
alqueires. Só que tem de ser uma penitenciária
de segurança máxima”, disse Maluly. Ele
afirmou que os dois presídios já geraram de
800 a 1.000 empregos no município. Segundo o Governo,
dependendo do modelo, cada penitenciária gera de 55
a 293 empregos diretos na cidade-sede.
Quando conseguiu um presídio, Lavínia, a 600
km de São Paulo, viu que a rotina da cidade começou
a mudar. Os agentes penitenciários começaram
a chegar e o município passou a receber famílias
de presos em dias de visita. Isso, segundo o prefeito Salvador
Casuo Matsunaka (PSDB), aqueceu o setor de comércio
e serviços da cidade, cuja principal atividade é
o cultivo da cana-de-açúcar. “Antes não
havia aqui ponto de táxi ou hotel. Com a cadeia, construímos
seis pontos, dois hotéis e um restaurante. Além
disso, a administração da penitenciária
compra nos mercados daqui”, contou Matsunaka, justificando
o fato de Lavínia estar na fila para receber mais uma
unidade.
Em Avanhandava, a 490 km de São Paulo, o otimismo
também está presente. “O Governo pode
construir quantas penitenciárias quiser em Avanhandava.
Todas as administrações das cidades vizinhas
que me criticavam agora também querem penitenciárias”,
disse o prefeito Antônio Calixto Portela (PDT).
Nem sempre a população de uma cidade é
favorável à instalação de penitenciária.
“Do ponto de vista econômico até pode trazer
benefícios, mas também aumenta a violência,
o roubo e o tráfico de drogas”, disse o ex-vereador
de Avanhandava, Alamares Hirata. Segundo ele, em cidades pequenas
a população é muito dependente dos programas
sociais das prefeituras, e por isso os moradores temem se
mobilizar contra a instalação de cadeias.
Para o agricultor Devanir Silva, presidente da Associação
de Moradores da Microbacia Pavão-Matão, região
onde fica a penitenciária de Assis, a violência
na cidade aumentou quando familiares dos presos se estabeleceram
na cidade. “Alguns aliciam nossos jovens, oferecendo
drogas”, disse.
LUIS KAWAGUTI
Do Diário de S. Paulo
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