GENEBRA -
O governo brasileiro não deve pensar que conseguirá
primeiro estabilizar a economia para somente depois lidar
com temas sociais como a saúde. A avaliação
é de Jeffrey Sachs, economista da Universidade de Columbia
que serviu de conselheiro para reformas neoliberais na Bolívia,
Polônia e Rússia nos anos 90.
Em entrevista ao Estado durante sua passagem por Genebra,
onde participa de uma reunião com ministros de vários
países pobres sobre o financiamento de sistemas de
saúde pública, Sachs disse que uma renovação
do acordo do Brasil com o Fundo Monetário Internacional
(FMI) deve ocorrer de forma que "deixe espaço
macroeconômico adequado" para políticas
no setor de saúde.
"A economia de um país nunca irá crescer
de forma sustentada se a saúde da população
estiver prejudicada. Uma economia não funciona sem
um sistema de saúde", afirmou. Para ele, o FMI
já está mais sensível a essa dimensão
dos problemas dos países em desenvolvimento. "O
FMI está em uma nova era e começa a ver que
não pode ignorar a saúde de um país."
No caso específico do Brasil, Sachs acredita que iniciativas
como o Fome Zero e projetos na área social devem ser
levados em conta durante a negociação de um
pacote com o FMI. "São elementos que precisam
ser considerados para que não acabem prejudicados."
O economista, além de defender um maior investimento
dos governos em seus sistemas de saúde, promove a idéia
de que as doações de economias ricas aos países
mais pobres sejam quadruplicadas até 2007 para o setor
de saúde. O objetivo é de que, até lá,
os governos estejam recebendo cerca de US$ 27 bilhões
por ano, o que, segundo ele, evitaria 8 milhões de
mortes no mundo a cada período.
JAMIL CHADE
Correspondente do jornal O Estado de S. Paulo
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