A onda de informalidade que tomou
conta do mercado de trabalho nos nove primeiros meses de 2003
praticamente igualou o número de trabalhadores informais
ao de empregados formais. Hoje, três das seis maiores
regiões metropolitanas do país têm mais
gente no mercado informal do que com registro em carteira.
É esse o retrato apontado por dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), levantados
a pedido da Folha. A base de informações é
a PME (Pesquisa Mensal de Emprego).
Com o aumento expressivo das contratações sem
carteira e de empregados por conta própria (na maioria
vivem de bicos ou são camelôs), o número
de informais atingiu 42,7% do total de empregados em setembro.
A cifra é apenas 0,9 ponto percentual menor do que
a participação dos trabalhadores com carteira:
43,6%.
Essa é a menor proporção de empregados
com carteira desde que o IBGE começou a fazer sua nova
pesquisa de emprego, em outubro de 2001. Em janeiro de 2003,
o percentual era de 45%. Já o número de informais
cresceu: em janeiro de 2003 era de 40,9%.
A soma de informais com trabalhadores com carteira não
alcança 100% porque existem ainda outras categorias
de ocupação -funcionários públicos,
empregadores e não-remunerados (pessoas que trabalham
numa empresa da família sem receber salário,
por exemplo).
No Rio de Janeiro, em Recife e em Salvador, o número
de informais supera o de formais. Isso já acontecia
antes, mas a distância aumentou neste ano com o crescimento
da informalidade. Em Recife, os informais eram 49,4% em setembro
-apenas 34,3% tinham registro.
Mais industrializadas, as regiões metropolitanas de
São Paulo, de Belo Horizonte e de Porto Alegre têm
menos informais do que empregados legalizados. É que
a indústria emprega mais trabalhadores com carteira
assinada.
Segundo Cimar Azeredo Pereira, gerente da PME, houve uma precarização
do mercado de trabalho, com o descompasso entre o aumento
das contratações formais e informais.
O emprego com carteira ficou praticamente estável (+0,2%)
em comparação com setembro de 2002, enquanto
o sem carteira subiu 8,7%. E o por conta própria teve
expansão ainda maior: 11,1%. Na média, houve
crescimento de 4,3% na ocupação.
Segundo Pereira, foram criados apenas 28 mil postos de trabalho
com carteira entre setembro de 2002 e setembro deste ano.
Pedro Soares
Folha de S.Paulo
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