Para melhorar o sistema de abastecimento
de água, o município de Senador Pompeu, no sertão
do Ceará, foi premiado com emenda de R$ 150 mil no
orçamento federal de 1999. Cortesia do ex-deputado
Pinheiro Landim - aquele que renunciou duas vezes ao mandato
este ano por denúncias de envolvimento com a compra
de sentenças judiciais - para combater a mortalidade
infantil do lugar, quatro vezes a média nacional.
Três anos depois do dinheiro ter sido quase todo liberado,
as 200 famílias da comunidade de Genipapeiro ainda
não tinham visto sinal de água. A prefeitura
deu a obra como concluída. No entanto, erros e alterações
no projeto - que sumiram com a construção de
500 metros de adutora - e a utilização de serviço
impróprio prejudicaram a obra. A vazão foi insuficiente
para o abastecimento da localidade.
Esse é um dos 132 problemas encontrados pela Controladoria
Geral da União (CGU) em 270 obras de abastecimento
de água e esgotamento sanitário previstas para
serem realizadas com recursos dos orçamentos de 1999
e 2000. O relatório, enviado no início do ano
à presidência da Funasa, mostra que boa parte
do Orçamento da União está literalmente
vazando pelo ralo.
Os auditores da CGU encontraram problemas em metade das obras
destinadas para água e esgoto fiscalizadas nos cerca
de 250 municípios visitados. Mais precisamente, em
52% das obras de abastecimento de água e em 60,5% das
de esgotamento sanitário fiscalizadas, foram encontradas
irregularidades ou impropriedades no pagamento, na licitação
ou na prestação de contas.
Em 60 obras, ou 15,3% das fiscalizadas, foram encontrados
indícios graves de dano ao erário ou prestação
inadequada de contas. Nesses casos, a CGU solicitou abertura
de processo administrativo do TCU para apurar responsabilidade
por omissão ou irregularidade.
O processo resultou na reformulação das normas
da Funasa, que contratou 50 novos engenheiros sanitários
e fez convênio com a CEF para supervisão conjunta
das obras municipais feitas com recursos federais. Essa era
a primeira das sete recomendações do relatório,
pois uma das constatações mais preocupantes
do trabalho da CGU foi que 28,4% das obras de abastecimento
de água e de esgotamento sanitário não
tiveram avaliação prévia ou acompanhamento
da Funasa.
"Os dados da CGU revelam que, no passado, não
houve planejamento adequado da Funasa para fazer o acompanhamento
das obras. Existem 4 mil convênios pendentes de avaliação.
Estamos tomando as providências para zerar esse passivo
a médio prazo", reconhece o auditor-chefe da Funasa,
Rômulo Lins.
Exemplo de desperdício por falta de avaliação
e planejamento verificou-se em Estreito, no Maranhão.
O sistema de abastecimento construído nunca entrou
em operação, porque foi instalado próximo
a outro, já com capacidade de atender à localidade,
agora favorecida por obra dispensável.
Nelson Breve
Do Jornal do Brasil
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