Pesquisa feita no Brasil e em outros nove países da América Latina
comprova que são insuficientes as informações
e os mecanismos disponíveis para que a população
possa acompanhar a elaboração dos orçamentos
públicos e fiscalizar os gastos dos governos.
A pesquisa, financiada pela Fundação Ford e
realizada pelo Ibase (Instituto Brasileiro de Análises
Sociais e Econômicas) no Brasil, cria um ranking de
transparência orçamentária entre os dez
países. O Brasil é o terceiro colocado, atrás
de Chile e México.
Sua média, no entanto, é baixa: apenas 50,3%
dos especialistas ouvidos na pesquisa acharam que a forma
de fazer o orçamento e de acompanhá-lo no Brasil
é democrática e acessível à população.
Quanto mais próximo de 100%, mais transparente é
o processo orçamentário. O desempenho do Brasil
foi considerado ruim pelo coordenador do Ibase, João
Sucupira. Segundo ele, um índice razoável de
transparência orçamentária deve estar
acima de 75%.
O Chile alcançou o índice de 61,76%, e o México,
de 50,4%. Na outra ponta estão Equador, com 30,55%,
e El Salvador, com 40,3%. Foram ainda avaliados Costa Rica
(48,84%), Nicarágua (46,35%), Peru (44,58%), Colômbia
(44,29%) e Argentina (44,07%).
Meta
Além de elaborar o Índice Latino-Americano de
Transparência Orçamentária, uma das metas
da pesquisa (sua primeira versão é de 2001)
é identificar os problemas no processo orçamentário.
O estudo atual visa aumentar a participação
da sociedade na definição das políticas
públicas e na fiscalização dos gastos
dos governos.
No Brasil, foram ouvidos 86 políticos, professores,
pesquisadores, jornalistas e representantes de organizações
da sociedade civil e das centrais sindicais especializadas
em orçamento público. O questionário
tinha 49 perguntas.
Embora o estudo reconheça avanços na elaboração
do Orçamento da União, ele aponta aspectos negativos.
Ao tratar dos dados econômicos que sustentam sua formulação,
registra que "permanecem problemas, entre os quais a
ausência de informações sobre as mudanças
feitas por exigência dos acordos com instituições
financeiras internacionais, como o FMI e o Banco Mundial".
Em relação à qualidade das informações
e estatísticas que formam a base do orçamento,
56,5% consideraram os dados de alta qualidade, verídicos
e confiáveis. Mas foram identificados dois problemas
nas estatísticas: são incompletas e insuficientes.
O estudo registra que "não há preocupação
do governo em facilitar o acesso às informações
orçamentárias" à população.
Sugere que o acesso seja feito por publicações
que traduzam os termos técnicos para uma linguagem
simples e de fácil entendimento.
Segundo o estudo, "a falta de transparência torna
mais complexa a tarefa de fiscalizar o governo e acompanhar
o andamento das políticas públicas" e "favorece
práticas corruptas".
Os especialistas consideraram que os mecanismos de controle
dos gastos públicos são ainda inconfiáveis
e que a dívida externa brasileira é uma "caixa
preta".
Marcelo Beraba,
da Folha de S. Paulo.
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