Vanessa Sayuri
Nakasato
Até o final de 2003, cerca de 42 mil brasileiros terão
recebido o diagnóstico de câncer, segundo estimativa
do Instituto Nacional de Câncer (Inca). O início
de uma longa e dolorosa caminhada que, não raramente,
aparenta um pesadelo sem fim.
O que poucos sabem é que, pelo menos financeiramente,
esse sofrimento pode ser atenuado. Doentes de câncer
possuem benefícios legais determinados por leis federais
e estaduais, que os concedem desde a liberação
do rodízio (no caso de São Paulo), até
a isenção de alguns impostos.
A falta de dinheiro para o tratamento do câncer é
um dos grandes problemas encontrados pelos doentes e seus
familiares. Contornar essa doença pode levar as pessoas
a venderem todos os seus bens materiais para pagar cirurgias
e medicamentos.
Um remédio chamado Zofran, utilizado em diversos tipos
de câncer, por exemplo, custa, em média, R$ 460
a caixa e dura menos de um mês. Como o preço
é muito alto, os hospitais dificilmente fornecem esse
medicamento.
A jornalista Cristina Veiga teve três canceres e sofreu
cirurgia em todas elas. O primeiro diagnóstico foi
no rim, em 1996, e o mais recente foi de mama, em abril deste
ano. Durante os últimos sete anos, Cristina freqüentou
clínicas, laboratórios e hospitais. Em um simples
exame, chegou a pagar mil reais. “Isso porque tenho
um plano de saúde que cobre muita coisa”, comentou.
Sua última operação custou R$ 20 mil,
considerando que seu plano de saúde bancou a internação
e os exames solicitados antes da alta hospitalar. “A
minha sorte foi de ter desejado trocar de carro no fim do
ano e ter guardado algum dinheiro”, relatou.
A jornalista conta que a radioterapia feita depois da terceira
cirurgia só foi possível graças aos benefícios
garantidos por lei. Seus recursos estavam no fim e ela já
estava entrando em desespero. “Por acaso, lembrei-me
de uma reportagem que havia lido e guardado sobre essas leis.
Procurei, achei e levei ao meu advogado. Corri atrás
e consegui retirar meu fundo de garantia. Não pagou
toda a radioterapia, que custou R$ 3 mil, mas ajudou bastante”,
disse.
Alguns dos direitos garantidos, por até cinco anos
pós-cirurgia, aos doentes de câncer são:
liberar o FGTS em caso de adoecimento do trabalhador ou de
um dependente. Em casos de deficiência física,
isenção dos impostos sobre Produto Industrializado
(IPI), sobre Operação Relativa à Circulação
de Mercadoria (ICMS), sobre Operação Financeira
(IOF) e sobre Veículos Automotores (IPVA).
Aposentar-se em caso de perda de capacidade de trabalho,
com pedido de acréscimo de 25% no valor da pensão
se ficar provada a necessidade de ajuda de terceiros. Mulheres
que tiveram a retirada da mama por tratamento de câncer
têm direito à cirurgia reparadora. Os pacientes
com alguns tipos de câncer em São Paulo e todos
os Distrito Federal têm passe livre nos transportes
públicos. Na capital paulista, os doentes de câncer
estão livre dos rodízios de carros.
O mais interessante é que nem mesmo os advogados têm
conhecimento da existência dessas leis. O site GD conversou
com sete advogados e apenas um sabia da existência desses
benefícios. Para a advogada Cristiane Lima de Andrade,
tanto os juristas quanto a população desconhecem
esses direitos por serem muito específicos.
Na opinião da assistente social do Inca, Márcia
Froes Skaba, o problema está na falta de divulgação.
“Não há política de informação,
nem por parte do Ministério da Saúde. Se as
pessoas com câncer soubessem de seus direitos, com certeza
os números do quadro de mortalidade seriam menores”,
enfatizou.
A chefe de serviço social do Hospital do Câncer
I, do Inca, Maria Emília Coelho, afirma que muitas
pessoas morrem por não terem dinheiro sequer para o
transporte. “Os portadores dessa doença têm
de ir ao hospital pelo menos duas vezes por semana, sem exceção.
Infelizmente, a maioria deles não vai às consultas
porque o passe de ônibus extrapola seu orçamento”,
lamentou.
Márcia e Maria Emília contam que, no Rio de
Janeiro, a Assistência Social do Inca trabalha para
divulgar esses benefícios nos hospitais públicos.
"Promovemos palestras, conversamos e orientamos a população.
Fazemos o máximo que podemos. Mesmo assim, não
conseguimos atingir a quantidade de pessoas que gostaríamos.
É um trabalho de formiguinha", ressaltou Márcia.
Além dos benefícios legais, qualquer pessoa
doente tem o direito de pedir medicamentos ao governo. Segundo
a Constituição Federal, os hospitais públicos
têm a obrigação de fornecer os remédios
necessários à população. Caso
não tenham como dar os medicamentos, o cidadão
pode entrar com pedido no Ministério Público
para receber esse direito.
Conforme os dados do Inca, em dezembro deste ano, terão
sido registrados 126.960 óbitos pela doença.
Para saber mais sobre os direitos dos doentes de câncer,
acesse o site www.inca.gov.br.
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